Nem mesmo em se tratando de matéria política os nossos meios de
comunicação e seus respectivos jornalistas nos contam toda a verdade. Se nos
revelam alguma verdade, já devemos nos dar por satisfeitos.
Há sempre múltiplos
interesses em jogo, ocultos, especialmente os financeiros. Para não perder
patrocinadores, incluindo os oriundos dos cofres públicos (nosso dinheiro!), se
a verdade não é completamente omitida, é escamoteada de tal forma que se torna
irreconhecível aos olhos menos avisados.
Temas considerados
tabus são evitados ao máximo, com receio de afugentar leitores. Até mesmo
articulistas de peso, intelectuais de valor reconhecido, preferem repetir o
óbvio que agrada ao leitor que não deseja pensar, em vez de apresentarem juízo
crítico construtivo sobre algum tema polêmico. Figuram entre os temas
considerados tabus a morte e a vida depois da morte, as crenças e superstições
de modo geral (incluindo a astrologia, presente diariamente em nossos melhores
jornais), o chamado pensamento mágico, tão bem descrito por Freud em Totem e
Tabu. São heranças que trazemos até hoje do homem mais primitivo.
Quando vemos Drauzio
Varella, na Folha de S. Paulo de ontem (25/7), escrever sobre o pensamento
mágico, de forma clara e corajosa, damo-nos conta de como isso é raro em nossa
mídia.
Varella inicia sua
crônica descrevendo a “cura” de uma senhora que mal andava, e que agora sai
toda serelepe diante das câmeras, para a graça de Deus, sob aplausos da plateia
e do pastor, naturalmente.
Afirma Varella:
“Feiticeiros,
xamãs, videntes, santos milagreiros e charlatães de toda espécie manipulam as
inseguranças humanas diante da incapacidade de moldarmos o mundo segundo nossa
vontade, do medo da decadência física, do desconhecido e da contradição imposta
pela morte. A ideia de que um dia fecharemos os olhos para retornar ao nada que
existia antes de nascermos é insuportável para a maioria esmagadora da
humanidade. Para escapar dos becos que nos parecem sem saída, nós nos agarramos
ao vai dar tudo certo, ao tenha fé em Deus. O pensamento mágico ignora as
evidências contrárias, ainda que estejam a um palmo de nós; nossos desejos
serão realizados por um toque da varinha de condão.”
E Varella complementa:
“O
pensamento mágico está por trás das poções que tanta gente ingere com o
propósito de manter boa saúde e curar males que vão do resfriado ao mal de
Alzheimer. São chás de todos os tipos, vitaminas compradas a preço de ouro e
uma variedade de receitas tão diversificadas quanto a imaginação humana
consegue criar. Muitas delas prescritas por profissionais que receberam o
diploma de médico.”
A expressão pensamento
mágico é utilizada para descrever a crença segundo a qual certos
pensamentos, por si mesmos, acarretariam a realização de desejos; mais que
isso, funcionariam como preventivos para acontecimentos funestos ou desagradáveis.
Este tipo de pensamento é típico da infância, e nos adultos sugerem, no mínimo,
um sintoma de imaturidade. O que facilita a exploração dos incautos pelos
espertalhões...
Freud, no magistral Totem e Tabu (1913), estuda a origem e a importância do
pensamento mágico no desenvolvimento psíquico da humanidade, e demonstra que
grande parte desta forma de pensamento persiste na vida moderna, sob diversas
formas, algumas delas abordadas por Drauzio Varella em sua crônica.
E nosso corajoso articulista conclui:
“A
única saída para formarmos gerações de mulheres e homens menos crédulos é
ensinar ciência e os princípios básicos do pensamento científico já na escola
primária.”
Suponho
que este também fosse o desejo de Galileu Galilei (1564-1642). Este tempo
chegará?
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