Este
blogueiro não é músico, mas ouve boa música desde a adolescência. Com o
primeiro dinheirinho ganho como estagiário em algum hospital do Rio de Janeiro,
ainda estudante de Medicina, comprou seu primeiro LP: os concertos para trompa,
de Mozart. Desde então, nas viagens que faz, a música é uma prioridade, e como consequência, tem
conhecido bons intérpretes.
Tudo
isso para dizer que nunca ouviu nada igual à performance de Evgeny Kissin! Um
susto!
No
último domingo, na Sala São Paulo, o pianista russo, hoje com cidadania inglesa
e israelense, mas que reside em Paris, deu concerto inigualável. Iniciou com a
Sonata n.10 em dó maior, K.330, de Mozart. Seguiu-se a Sonata n.23 em fá menor,
op.57, de Beethoven, ambas tocadas com enorme sensibilidade e precisão técnica
(no pobre julgamento deste blogueiro). Finda esta primeira parte, Evgeny foi
ovacionado pela plateia como se a apresentação tivesse chegado ao fim, todos de
pé! E se tivesse chegado ao fim, estaríamos todos já completamente satisfeitos.
Na
segunda parte, 3 intermezzos, op.117, de Brahms; 4 peças de Albéniz (Granada,
Cádiz, Córdoba e Asturias), e Viva Navarra!, de Joaquín Larregla.
Além
do estado de encantamento, saí do concerto curioso com a escolha das peças
realizada pelo artista. Por que o homem que é considerado um gênio da arte
pianística teria feito tal seleção?
No
segunda-feira, em artigo no Estadão, o homem revelou ao repórter João Luiz
Sampaio:
“Foi por amor. Sinto que alguns aspectos da atividade dos músicos são
mais simples e menos misteriosos do que se imagina. Não há uma ideia específica
por trás do programa que montei para minhas apresentações em São Paulo. A única
razão para a minha escolha de repertório é o amor que sinto por algumas obras.
Meus gostos são muito amplos, o repertório para piano é extremamente vasto.
Nesse processo, tento combinar peças maiores com outras menores. E se quero
executar uma obra que pode ser difícil para a plateia, busco equilibrar com
outras mais fáceis.”
Ocorre com este blogueiro,
e talvez com grande parte da plateia, fenômeno curioso. Enlevados pela
interpretação genial do artista, os ouvintes desenvolvem imediatamente um processo
de idealização sobre o homem que tocou o piano. Vem Evgeny e esclarece: “alguns
aspectos da atividade dos músicos são mais simples e menos misteriosos do que
se imagina”. Ele nos ajuda a desidealizar...
Desnecessário dizer que
tal idealização é um processo que tem sua origem na infância. Que bom voltar a
ser criança ouvindo Evgeny Kissin!
Que privilégio!!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue fabulosa experiência, André! Obrigado por tê-la compartilhado conosco. Kissin é realmente um intérprete de leituras primorosas.
ResponderExcluirA impressão que você teve é semelhante a de João Marcos Coelho, para o Estadão, que terminou assim a crítica: "Perdeu o recital de anteontem? Trate de assistir o de amanhã".