terça-feira, 16 de junho de 2015

O gênio de Evgeny Kissin



             Este blogueiro não é músico, mas ouve boa música desde a adolescência. Com o primeiro dinheirinho ganho como estagiário em algum hospital do Rio de Janeiro, ainda estudante de Medicina, comprou seu primeiro LP: os concertos para trompa, de Mozart. Desde então, nas viagens que faz, a música é uma prioridade, e como consequência, tem conhecido bons intérpretes.
            Tudo isso para dizer que nunca ouviu nada igual à performance de Evgeny Kissin! Um susto!
            No último domingo, na Sala São Paulo, o pianista russo, hoje com cidadania inglesa e israelense, mas que reside em Paris, deu concerto inigualável. Iniciou com a Sonata n.10 em dó maior, K.330, de Mozart. Seguiu-se a Sonata n.23 em fá menor, op.57, de Beethoven, ambas tocadas com enorme sensibilidade e precisão técnica (no pobre julgamento deste blogueiro). Finda esta primeira parte, Evgeny foi ovacionado pela plateia como se a apresentação tivesse chegado ao fim, todos de pé! E se tivesse chegado ao fim, estaríamos todos já completamente satisfeitos.
            Na segunda parte, 3 intermezzos, op.117, de Brahms; 4 peças de Albéniz (Granada, Cádiz, Córdoba e Asturias), e Viva Navarra!, de Joaquín Larregla.
            Além do estado de encantamento, saí do concerto curioso com a escolha das peças realizada pelo artista. Por que o homem que é considerado um gênio da arte pianística teria feito tal seleção?
            No segunda-feira, em artigo no Estadão, o homem revelou ao repórter João Luiz Sampaio:

“Foi por amor. Sinto que alguns aspectos da atividade dos músicos são mais simples e menos misteriosos do que se imagina. Não há uma ideia específica por trás do programa que montei para minhas apresentações em São Paulo. A única razão para a minha escolha de repertório é o amor que sinto por algumas obras. Meus gostos são muito amplos, o repertório para piano é extremamente vasto. Nesse processo, tento combinar peças maiores com outras menores. E se quero executar uma obra que pode ser difícil para a plateia, busco equilibrar com outras mais fáceis.”
           
Ocorre com este blogueiro, e talvez com grande parte da plateia, fenômeno curioso. Enlevados pela interpretação genial do artista, os ouvintes desenvolvem imediatamente um processo de idealização sobre o homem que tocou o piano. Vem Evgeny e esclarece: “alguns aspectos da atividade dos músicos são mais simples e menos misteriosos do que se imagina”. Ele nos ajuda a desidealizar...
Desnecessário dizer que tal idealização é um processo que tem sua origem na infância. Que bom voltar a ser criança ouvindo Evgeny Kissin!  


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Que fabulosa experiência, André! Obrigado por tê-la compartilhado conosco. Kissin é realmente um intérprete de leituras primorosas.
    A impressão que você teve é semelhante a de João Marcos Coelho, para o Estadão, que terminou assim a crítica: "Perdeu o recital de anteontem? Trate de assistir o de amanhã".

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