Monumento ao Livro, em Berlin
Não tenho apreço pelo já arraigado costume do Dia disso, Dia daquilo,
incluindo as datas religiosas, afetivas e outras efemérides. Há quase sempre um
segundo interesse nessas pretensas homenagens, especialmente do comércio varejista,
como se costuma dizer. “Nesse ano o Dia dos Namorados vendeu mais que o Dia das
Mães!” “As vendas do Dia das Crianças estiveram aquém do esperado pelos
lojistas!” “Espera-se movimento recorde nas vendas de Natal!” “Ruim o movimento
nos shoppings na véspera do Dia dos Pais.” Enfim, coisas desse tipo.
Há exceção para tudo
nessa vida. Daí o anexim Toda Regra Tem Exceção. Eis a minha exceção: o Dia do
Livro! E é hoje!
Parece que o Dia Internacional do Livro surgiu na Catalunha, em 5 de abril
de 1926, em comemoração do
nascimento de Miguel de
Cervantes. Em 1930
a data comemorativa mudou para 23 de abril, dia do
falecimento de Cervantes. Em 1995
a UNESCO oficializou o 23 de abril como o Dia Mundial
do Livro e do Direito de Autor. (Aí está!, embutida uma segunda
intenção, o direito do autor. Nada contra, porém.)
A estatística mais
recente afirma que, no Brasil, em cada 10 indivíduos, 7 não leem sequer um
livro por ano. Isso é assustador. (Conheci um médico que bradava Nunca li um
livro em minha vida! Orgulhava-se portanto da própria estupidez. Um certo presidente da república também já fez afirmação semelhante.) Este fato,
por si só, faz por merecer que se dê destaque ao Dia do Livro.
Outra particularidade
do livro a merecer destaque: ele dispensa intermediários, a conversa se
estabelece diretamente entre autor e leitor. E se o autor é bom, se é ótimo, se
é um Shakespeare, temos muito o que aprender com ele. (O tradutor pode ser
considerado um intermediário. Se ele também é bom, se é ótimo, se é uma Bárbara
Heliodora, então tudo bem, somos gratos a ele.)
Uma grande característica:
o mesmo livro pode ser lido várias vezes. (Certa feita, outro médico amigo
espantou-se, Mas você lê um livro duas vezes?! Ao que respondi, provocativo e
arrogante, Duas não, três, quatro, cinco...) Hamlet é um bom exemplo de livro a
exigir múltiplas e repetidas leituras. Como na vida, desde a infância,
aprendemos com a repetição.
Mas é preciso escolher
bem o livro que se vai ler. Cuidado com o best-seller,
muito cuidado com a autoajuda, atenção às simplificações ou reduções das
grandes obras, nunca é demais voltar aos clássicos. Mas não se deve desprezar
os contemporâneos, penso eu.
Bem, não é difícil
cantar loas ao objeto livro. Ele merece mesmo ter seu Dia Internacional.
O homem estranhou que o " louco" leia duas (ou mais) vezes o mesmo livro. Imagine se ele soubesse que o "louco" compra dois (ou mais!) exemplares de edições do mesmo livro! Isso é que é gostar de livro!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA leitura de bons livros expande nosso mundo interno.
ResponderExcluirAjuda a ficarmos mais junto de nós mesmos.