sexta-feira, 20 de março de 2015

Horror, horror, horror



A pessoa portadora de albinismo, distúrbio congênito encontrado em todo o mundo, e que se caracteriza pela ausência de pigmentos na pele, vive em um verdadeiro inferno na Tanzânia e países vizinhos, como Malawi e Burundi. Mais de 70 portadores da anomalia foram vítimas de mutilação e assassinato nesses países desde 2000. Segundo a ONU, apenas nos últimos seis meses, 15 albinos foram sequestrados, feridos ou mortos na Tanzânia.
Há uma crença disseminada de que o albino tem poderes mágicos. Partes do corpo deles são negociadas como amuletos, e usadas por curandeiros na preparação de poções mágicas. No mercado negro, a mão de um albino pode valer US$ 600.
A instituição denominada Buhangija oferece proteção e educação para crianças albinas, porém elas são obrigadas a deixar a instituição na maioridade, e a partir de então expostas ao permanente risco de morte.
Os políticos, incluindo o próprio presidente tanzaniano Jakaya Kikwete, prometem coibir violência. No entanto, acredita-se que eles mesmos recorram aos curandeiros em época de campanhas eleitorais, confiando em seus poderes mágicos. Haverá eleições gerais em outubro próximo, e os assassinatos se multiplicam!
            O chamado pensamento mágico, tão característico da infância, persiste e se manifesta com frequência na idade adulta. Para estes tanzanianos, o albinismo constitui um tabu. Em seu magnífico Totem e tabu (1913), Freud chamou a atenção para a ambiguidade da palavra tabu, que tanto pode significar o “sagrado”, como o “misterioso, perigoso, proibido, impuro”. A ambivalência emocional contida no tabu está presente no caso dos albinos originários daqueles países africanos: ao mesmo tempo que possuem poderes mágicos, e chegam a ter partes do corpo cobiçadas, muitos são mortos ao nascimento, excluídos do convívio social, acusados de promover o contágio quando em contato com os ditos normais.
            Atitudes como estas dão a exata dimensão do primitivismo em que ainda se encontra grande parte da humanidade. Quando uma criança pergunta ao pai “quem somos” e “de onde viemos”, o pai deve responder:
            – Meu filho, somos bichos.

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