A pessoa portadora de albinismo, distúrbio congênito encontrado em
todo o mundo, e que se caracteriza pela ausência de pigmentos na pele, vive em
um verdadeiro inferno na Tanzânia e países vizinhos, como Malawi e Burundi. Mais de 70 portadores da anomalia foram
vítimas de mutilação e assassinato nesses países desde 2000. Segundo a ONU, apenas nos
últimos seis meses, 15 albinos foram sequestrados, feridos ou mortos na
Tanzânia.
Há uma crença disseminada de
que o albino tem poderes mágicos. Partes do corpo deles são negociadas
como amuletos, e usadas por curandeiros na preparação de poções mágicas. No
mercado negro, a mão de um albino pode valer US$ 600.
A
instituição denominada Buhangija oferece proteção e educação para crianças
albinas, porém elas são obrigadas a deixar a instituição na maioridade, e a
partir de então expostas ao permanente risco de morte.
Os políticos, incluindo o próprio presidente tanzaniano Jakaya
Kikwete, prometem coibir violência. No
entanto, acredita-se que eles mesmos recorram aos curandeiros em época
de campanhas eleitorais, confiando em seus poderes mágicos. Haverá eleições
gerais em outubro próximo, e os assassinatos se multiplicam!
O chamado pensamento mágico, tão característico da
infância, persiste e se manifesta com frequência na idade adulta. Para estes
tanzanianos, o albinismo constitui um tabu. Em seu magnífico Totem e tabu
(1913), Freud chamou a atenção para a ambiguidade da palavra tabu, que tanto
pode significar o “sagrado”, como o “misterioso, perigoso, proibido, impuro”. A
ambivalência emocional contida no tabu está presente no caso dos albinos
originários daqueles países africanos: ao mesmo tempo que possuem poderes
mágicos, e chegam a ter partes do corpo cobiçadas, muitos são mortos ao
nascimento, excluídos do convívio social, acusados de promover o contágio quando
em contato com os ditos normais.
Atitudes como estas dão a exata dimensão do primitivismo
em que ainda se encontra grande parte da humanidade. Quando uma criança
pergunta ao pai “quem somos” e “de onde viemos”, o pai deve responder:
– Meu filho, somos bichos.
Não é justo com os bichos! Melhor responder: "Somos monstros!"
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