terça-feira, 24 de março de 2015

A morte das flores




             O homem tem por hábito comprar flores às sextas-feiras.
           
Não se trata de flores colhidas em jardins ou floriculturas, como acontece com rosas e flores-do-campo, oferecidas em buquês ou ramalhetes. Ele compra flores em pequenos vasos, plantas já formadas, floridas, são margaridas brancas e amarelas, sempre-vivas, crisântemos, orquídeas, não-me-toques, begônias, bromélias, flores-de-maio, cravos, cravinas, dálias, gazânias, girassóis, azaleias, violetas.
           
Elas enfeitam a sala, alegram a casa, até o dia em que morrem. Mas não morrem de morte súbita, desmanchando-se no vaso, de repente, da noite para o dia. Morrem aos poucos, dia após dia. Hoje uma flor que murcha, amanhã uma folha que amarelece, depois outra flor que cai, mais uma folha envelhecida, até que o vaso todo morre e é jogado no lixo.
           
À medida que as plantas vão morrendo o homem vai podando cuidadosamente as folhas amarelas, poda as flores murchas, continua regando a planta com cuidado – a dose certa de água –, borrifa água fresca nas flores sobreviventes, para que a planta permaneça viva o quanto puder.
           
Até que a última flor se vá.

Foto: A.Vianna, mar. 2015.
             

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