O homem tem por hábito comprar flores às
sextas-feiras.
Não se trata de flores
colhidas em jardins ou floriculturas, como acontece com rosas e
flores-do-campo, oferecidas em buquês ou ramalhetes. Ele compra flores em
pequenos vasos, plantas já formadas, floridas, são margaridas brancas e
amarelas, sempre-vivas, crisântemos, orquídeas, não-me-toques, begônias, bromélias,
flores-de-maio, cravos, cravinas, dálias, gazânias, girassóis, azaleias,
violetas.
Elas enfeitam a sala,
alegram a casa, até o dia em que morrem. Mas não morrem de morte súbita,
desmanchando-se no vaso, de repente, da noite para o dia. Morrem aos poucos,
dia após dia. Hoje uma flor que murcha, amanhã uma folha que amarelece, depois
outra flor que cai, mais uma folha envelhecida, até que o vaso todo morre e é
jogado no lixo.
À medida que as plantas
vão morrendo o homem vai podando cuidadosamente as folhas amarelas, poda as
flores murchas, continua regando a planta com cuidado – a dose certa de água –,
borrifa água fresca nas flores sobreviventes, para que a planta permaneça viva
o quanto puder.
Até que a última flor se
vá.
Foto: A.Vianna, mar. 2015.
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Bonita metáfora da vida que se aproxima do fim: é preciso que finde com beleza.
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