Reportagem de Pedro Butcher para a Folha
de S. Paulo neste sábado (14/2), intitulada Filha
de Nina Simone exibe documentário sobre a mãe, trata de um interessante
aspecto da relação entre pais e filhos, pouco comentado na mídia. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/208165-filha-de-nina-simone-exibe-documentario-sobre-a-mae.shtml)
Assim tem início o artigo:
“Quando
fez 19 anos, Lisa Simone Kelly comunicou à mãe, a cantora Nina Simone, que se
alistaria nas forças armadas. "Você pode imaginar o rosto dela quando
falei isso? Os jovens encontram as formas mais loucas para atingir seus
pais", contou Lisa à plateia do documentário "What Happened, Miss
Simone?", um dos destaques da mostra Panorama do Festival de Berlim,
exibido na quinta (12). Lisa fez carreira na aeronáutica por dez anos. Foi uma
forma de contrariar a mãe e de se vingar da relação tortuosa que tiveram.
"Minha mãe podia se tornar um monstro", lembra-se Lisa, que hoje é
cantora e acaba de lançar um álbum, "All Is Well"”.
O tema há
de interessar a pais e filhos; aos primeiros, por muitas vezes sentirem-se
“responsáveis” pelas atitudes dos filhos; estes, embora sejam os verdadeiros
responsáveis pelos seus próprios atos – todos nós o somos –, atribuem aos
genitores a “culpa” de suas decisões.
Em quantas
diferentes situações tal reação, por parte de um filho, poderá manifestar-se?
Porque, na verdade, não se trata de uma ação, e sim, de um re-ação a alguma outra
coisa, mais precisamente, provocada pela relação entre pais e filhos desde a
mais tenra infância.
Na escolha
da profissão, por exemplo, e este é o caso da reportagem em questão, uma
escolha que geralmente vale para toda uma vida, ela pode constituir-se num
desastre, se é feita não conforme as habilidades do filho, mas sim como reação
a uma possível orientação dos pais. (Que voltas a filha de Nina Simone precisou
dar, para chegar onde provavelmente sempre desejou estar: ser uma cantora, como
a mãe!)
O mesmo mecanismo de funcionamento
psíquico pode interferir até mesmo nos gostos pessoais, incluindo o gosto pela
arte. É bastante plausível que um filho deteste Beethoven porque seu pai ou sua
mãe, que o maltratavam de alguma maneira, adoram Beethoven.
Porém, a
ideia que me ocorreu com mais força foi a da influência que podem sofrer os
filhos na escolha do esposo ou companheiro, em função da reação à orientação
paterna ou materna. O exemplo extremo, que virou filme, é o da menina rica da
Zona Sul carioca que escolhe para companheiro o traficante perigoso que se
esconde no morro. Com menor intensidade e variáveis mais sutis, há de haver uma
gama enorme de situações em que a relação fracassa, porque a escolha não foi
espontânea, mas sim “imposta” por uma condição psíquica não reconhecida.
De qualquer
modo, de nada adianta dizer que “a culpa é da mãe”. A responsabilidade é sempre
do sujeito, afinal, o dono de sua própria vida. Dar um outro significado às
experiências vividas na infância, eis uma árdua tarefa para a vida inteira,
porém indispensável, se desejamos ser, de fato, quem realmente somos. A
Psicanálise pode oferecer uma boa ajuda nessa empreitada.
perfeita André!
ResponderExcluirDá muito o que pensar. Afinal será que alguém consegue pensar por si, sem qualquer influência?
ResponderExcluirInfluência haverá sempre. O problema é desenvolver a capacidade de pensar para decidir por si mesmo, penso eu.
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