Não escondo
minha admiração pelo articulista Hélio Schwartsman, que publica suas crônicas
no Estadão; chego a afirmar que ele representa o que de melhor podemos
encontrar na Imprensa nacional atualmente. Hoje, no entanto, humildemente, peço
permissão para discordar, ele que escreveu “Abaixo a redação”.
Diz ele: “Dados divulgados esta semana mostraram
que 529 mil dos 6,19 milhões de estudantes que fizeram a prova (8,55%) tiraram
nota zero na dissertação. A maioria deles (53%) nem se deu ao trabalho de
tentar escrever o texto, entregando a folha em branco. O restante foi mal
mesmo, sendo a fuga ao tema a principal dificuldade relatada pelos corretores.”
E justifica: “Em teoria, não há nada melhor do que uma redação para
avaliar o estudante. [Grifo meu]. Ela permite, de uma vez só, averiguar o
nível de conhecimentos do candidato, sua capacidade de articular ideias bem
como seu domínio sobre a linguagem escrita.
Há, porém, um preço a pagar: é impossível corrigir mais de 5
milhões de dissertações de modo objetivo.”
Ao
finalizar o texto, Schwartsman afirma: “Vale ainda frisar que uma eventual
retirada da redação do Enem não significaria a morte da escrita. Esse exame é
apenas um instante da vida escolar de um aluno, que oferece inúmeras e melhores
oportunidades para provas dissertativas.”
Pois é aí
que discordo frontalmente do homem. O que importa, de fato, não é a redação do
dia do exame, este sim, apenas um instante fugaz na vida do estudante. Depois
que a redação foi introduzida (ou reintroduzida?) nas provas, tanto nas escolas
tradicionais, públicas e privadas, como nos chamados cursinhos, além dos cursos
preparatórios específicos para redação, grande parte dos estudantes passou a
praticar a escrita, não por amor à arte, infelizmente, mas como preparação para
o exame. Não importa. Importa que o aluno passou a escrever, e este exercício
não pode ser desprezado. (A única forma de aprender a escrever é escrevendo.)
Não se pode
descartar a hipótese de que um certo número destes que começaram a escrever por
obrigação, tomarão gosto pela coisa e passarão a fazê-lo por prazer, podendo
vir a despontar como os escritores de amanhã. De resto, não é isso que acontece
muitas vezes com o hábito da leitura?
Claro que
estou falando de minorias. Porém, os escritores serão sempre uma minoria.
Neste ano,
a maioria dos que tiraram zero na redação entregou a folha em branco, como
ressalta Schwartsman, o que pode significar também dificuldade para a
interpretação de um texto. Só a leitura pode sanar tal deficiência. Então os
professores em todo o país haverão de gritar em sala de aula, Se você quer escrever, você tem que ler! Eis
aqui outra boa razão para se manter a redação como processo de avaliação do
estudante. Alguns começarão a ler por obrigação; depois, lerão por puro prazer.
Um último
argumento a favor da redação nos exames: está criada uma nova profissão no
Brasil, o Corretor de redação! Nada
de corretor eletrônico, o que acontece também com a tradução; trata-se de
corretor humano mesmo, manual, digamos assim, a dar emprego para muita gente,
uma renda a mais para os sofridos professores de português.
Viva a
redação!
Http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/204154-abaixo-a-redacao.shtml
Muito admira que um articulista do padrão do Hélio possa questionar a pertinência da redação! Corrigir faz parte da medida! Nada que seja impossível.
ResponderExcluirAgora espero que o louco diga algo a respeito do meio milhão de candidatos que sucumbiram diante do primeiro obstáculo.
Hélio respondeu que os estudantes podem fazê-lo para outras provas, e que o Enem não tem essa importância toda. Respeito muito o homem.
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