Ao se pensar em crônica no Brasil, como
gênero literário, o primeiro nome que salta aos olhos é o de Rubem Braga – esta
parece ser uma dessas raras unanimidades nacionais. Dos novíssimos, aprecio
J.P. Cuenca e Fernanda Torres. Mas confesso que não conhecia o Rubem Fonseca
cronista.
O
autor de A grande arte (1983) é
vencedor de cinco prêmios Jabuti, além dos prestigiosos prêmios Juan Rulfo e
Camões, este último talvez o mais importante da língua portuguesa. Inconteste,
portanto, o valor do autor de Feliz ano
novo (1995) e Agosto (1990).
Nos
últimos anos, especialmente com a publicação de Secreções, Excreções e desatinos (2001), e Pequenas criaturas (2002), admito que deixei de lê-lo; em minha
precária opinião, tornou-se repetitivo demais, sempre o mesmo formato, perdeu a
graça.
Pois
agora surge O Romance morreu (Nova
Fronteira, 2014), o excelente livro de crônicas de Rubem Fonseca, que há de
colocá-lo entre os melhores do gênero.
O
leitor não se assuste: na primeira crônica, que empresta o nome ao livro, o
autor garante que o romance não morreu! Os leitores tornam-se cada vez mais
escassos, mas os escritores não desistem, vão resistir.
A
segunda crônica traz um título interessantíssimo e instigante: A pornografia
começou com a Vênus de Willendorf? E assim termina:
“Teriam
existido e sido destruídas pelos defensores da moral, dos bons costumes, do bom
gosto, outras Vênus de Willendorf? Por querer dizer o indizível e mostrar o
invisível (aquilo que não deve ser visto), os artistas começaram a sofrer na
Idade da Pedra. Mas esses milhares de séculos de coerção não foram fortes e
longos o suficiente para destruir no artista a sua coragem de criar – uma das
maiores virtudes do ser humano.”
Fonseca, que se diz um
cineasta frustrado, conta que foi assistir à filmagem de um episódio de
Mandrake, baseado num dos seus contos, Dia dos namorados. Conversa com Marcos
Palmeira e é apresentado a Viveca (título da crônica), um travesti. E o autor
revela-se intransigente defensor dos direitos de homossexuais, travestis, transexuais,
as ideias expostas com equilíbrio e inteligência.
A forma, bem, a forma está impecável
neste volume de crônicas.
Não é fácil fazer boa crônica. O louco tem sido mestre nisso, no blog. E o idoso Fonseca se renova, assim: olha para o mundo e escreve para si.
ResponderExcluirInteressante, Paulo, que nesse livro ele revela um pouco de si mesmo.
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