segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A Arte da Crônica




             Ao se pensar em crônica no Brasil, como gênero literário, o primeiro nome que salta aos olhos é o de Rubem Braga – esta parece ser uma dessas raras unanimidades nacionais. Dos novíssimos, aprecio J.P. Cuenca e Fernanda Torres. Mas confesso que não conhecia o Rubem Fonseca cronista.
            O autor de A grande arte (1983) é vencedor de cinco prêmios Jabuti, além dos prestigiosos prêmios Juan Rulfo e Camões, este último talvez o mais importante da língua portuguesa. Inconteste, portanto, o valor do autor de Feliz ano novo (1995) e Agosto (1990).
            Nos últimos anos, especialmente com a publicação de Secreções, Excreções e desatinos (2001), e Pequenas criaturas (2002), admito que deixei de lê-lo; em minha precária opinião, tornou-se repetitivo demais, sempre o mesmo formato, perdeu a graça.
            Pois agora surge O Romance morreu (Nova Fronteira, 2014), o excelente livro de crônicas de Rubem Fonseca, que há de colocá-lo entre os melhores do gênero.
            O leitor não se assuste: na primeira crônica, que empresta o nome ao livro, o autor garante que o romance não morreu! Os leitores tornam-se cada vez mais escassos, mas os escritores não desistem, vão resistir.
            A segunda crônica traz um título interessantíssimo e instigante: A pornografia começou com a Vênus de Willendorf? E assim termina:

“Teriam existido e sido destruídas pelos defensores da moral, dos bons costumes, do bom gosto, outras Vênus de Willendorf? Por querer dizer o indizível e mostrar o invisível (aquilo que não deve ser visto), os artistas começaram a sofrer na Idade da Pedra. Mas esses milhares de séculos de coerção não foram fortes e longos o suficiente para destruir no artista a sua coragem de criar – uma das maiores virtudes do ser humano.”

Fonseca, que se diz um cineasta frustrado, conta que foi assistir à filmagem de um episódio de Mandrake, baseado num dos seus contos, Dia dos namorados. Conversa com Marcos Palmeira e é apresentado a Viveca (título da crônica), um travesti. E o autor revela-se intransigente defensor dos direitos de homossexuais, travestis, transexuais, as ideias expostas com equilíbrio e inteligência.
A forma, bem, a forma está impecável neste volume de crônicas.

2 comentários:

  1. Não é fácil fazer boa crônica. O louco tem sido mestre nisso, no blog. E o idoso Fonseca se renova, assim: olha para o mundo e escreve para si.

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    1. Interessante, Paulo, que nesse livro ele revela um pouco de si mesmo.

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