Ao meu irmão Paulo.
Por que tudo
que um grande escritor produz precisa ser ótimo, perfeito, uma obra prima? É
possível que os fãs sejam responsáveis por isso, ao ver no ídolo alguém
infalível: apenas uma fantasia infantil.
Não me surpreendo, portanto, com a
reversão de expectativa ao ler o último livro de algum autor que aprecio, e não
gostar dele, ou mesmo detestá-lo. Porém, este meu ponto de vista, digamos
negativo, não vem para o blog, não o torno público, guardo só para mim,
principalmente porque posso estar enganado. (Monteiro Lobato bem que poderia
ter silenciado diante da exposição de Anita Malfatti, em 1917. E eu nem sou um
Monteiro Lobato, longe disso.)
Tenho postado comentários sobre
livros que tenho lido recentemente, sempre elogiosos; não faço resenhas, deixo
para o possível leitor o inteiro sabor da novidade; também não faço crítica
literária, por total falta de competência; expresso apenas um singelo ponto de
vista, acompanhado das associações de ideias que a obra desperta em mim.
Mas
se o livro não desperta em mim nada que valha a pena comentar, se acho-o ruim,
de quem é a culpa? Do livro ou das minhas parcas ideias? Diante desta dúvida,
melhor o silêncio. Até agora.
Bem,
paradoxalmente, acontece que este não é, nunca foi, meu perfil de comportamento
diante da vida: sou um palpiteiro contumaz, impertinente, presunçoso,
arrogante, metido a besta. (Este Louco por cachorros é a mais recente
manifestação dessas qualidades.) E me tem incomodado o meu silêncio – ou seria omissão?
– diante de dois livros lançados recentemente, incensados pela crítica, os
quais definitivamente não gostei. Em conversa recente com meu irmão, este sim,
escritor de verdade, poeta de primeira água, fui estimulado a comentar sobre os
livros que não gostei, É apenas o seu ponto de vista, disse-me ele, a quem
sempre obedeço. Assim sendo...
Sou
louco por Fernanda Torres (mais ainda pela mãe...), como atriz, comediante,
como pessoa, pelas entrevistas que tenho acompanhado, e particularmente como
cronista! Crônica é a especialidade dela: perspicaz, com grande poder de
síntese, ótima observadora da realidade, dona de escrita ágil, simples,
correta. Porém o romance Fim, é o fim... Nem Hemingway conseguiu escrever com
frases tão curtas! A leitura torna-se uma sucessão de soluços, o leitor
engasgado com a escrita feita a solavancos. Nada a dizer dobre o conteúdo,
sobre a trama, prejudicados pela forma.
Chico
Buarque, ainda mais que Fernandinha, é unanimidade nacional. Estorvo (1991),
Budapeste (2003) e Leite derramado (2009) são excelentes romances, sucessos de
crítica e público com inteira justiça. Já O irmão alemão, faça-me o favor... De
posse de uma história que deve ter atormentado o autor por toda a vida, desde a
mais tenra infância, o filho do grande Sergio meteu os pés pelas mãos ao tentar
fazer da realidade, ficção. O estilo é o mesmo de sempre, elegante, preciso,
culto, porém prejudicado agora pela impossibilidade (psíquica?) de apenas
contar uma história.
Torço
para que Fernanda Torres não desista do romance. Chico já é um romancista
consagrado. Ambos não estão nem aí para o que penso ou deixo de pensar sobre
literatura, além do que não leem o Louco por cachorros. (Não sabem o que estão
perdendo...)
Para
a própria sobrevivência psíquica – elas necessitam desesperadamente de proteção
– as crianças enxergam seus pais como heróis, que as livrarão de todos os
perigos e ameaças desta vida, seres perfeitos e infalíveis que são. (As
crianças, portanto, não pensam e sentem assim, pelos pais, mas por elas mesmas,
em benefício próprio, e não para seguir algum mandamento divino.) A isto chamei
de uma fantasia infantil. Crescer, tornar-se adultos, também é aprender a ver os
pais como eles são, simples mortais.
Os
admiradores de Fernanda e Chico, os que cresceram, haverão de perdoá-los.
Ótimo! É assim que se expressa uma crítica, sem destruição, sem desrespeito. Há de ajudar que for ler os citados livros. Melhor que resenha, melhor que crítica literária pedante: o jeito de sentir e refletir de um grande leitor! Ótimo, mesmo!
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