segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Farta Brutos



          O pernoite em Lisboa era movido por obrigação e devoção. O voo oriundo da Itália chegava em Portugal à tarde, e a partida para o Brasil ocorreria apenas na manhã do dia seguinte. Esta, a obrigação em pernoitar. Comer um bom bacalhau, eis a devoção!
Nas últimas vezes que estivemos em Lisboa não fomos felizes na escolha dos restaurantes. Agora, precisávamos acertar.
A nossa “guia” encontrou na Internet um certo restaurante que costumava ser frequentado por ninguém menos que José Saramago. Bem, era a fome com a vontade de comer...
           Nome do lugar e da rua tipicamente portugueses: Farta Brutos, na Travessa da Espera, 20, no Bairro Alto. Quando anunciamos o endereço ao motorista de taxi, ele incontinenti perguntou, E onde fica a Travessa da Espera? (Era a certeza de que estávamos mesmo em Portugal...)



(O restaurante fica na esquina, 
mas a entrada é pela terceira porta à esquerda.)


          Chegamos sem dificuldade, faltavam 15 minutos para as 8 da noite e a casa ainda estava fechada. Olhamos por uma portinha diminuta (casa de bonecas?), buscando sinal de vida, e uma senhora respondeu lá de baixo, Abrimos em 10 minutos.
Entramos pela portinhola, descemos uma pequena rampa e chegamos ao único salão, com poucas mesas. As paredes revestidas de madeira, prateleiras repletas de vinhos, e muitas, muitas fotografias de frequentadores ilustres, quase sempre ao lado do proprietário, Seu Oliveira.




(A mesa de Saramago é a última à direita.)


          O tratamento que recebemos foi o mais afetuoso possível. Seu Oliveira falou-nos do hábito de Saramago em visitar o estabelecimento, sempre que vinha a Lisboa, Sentava-se ele sempre à mesma mesa, aquela que lá está, com a plaquinha com o nome dele, éramos amigos, cheguei a visitá-lo em Lanzarote, agora Pilar continua a cá vir, muito simpática, nossa amiga também. Seu Oliveira tinha muito o que contar, enumerava os brasileiros ilustres que comeram no Farta Brutos, alguns nem tão queridos assim dos viajantes, até ex-presidentes lá estiveram.
          Quando lhe perguntei sobre a origem do nome do restaurante, Seu Oliveira fitou-me com leve ar de espanto, como se Farta Brutos fosse o nome mais óbvio e natural do mundo. Não soube me responder. 




          De entrada, experimentamos os “peixinhos da horta”, mas saborosa mesmo era a história dos petiscos. Era pobre a família de Seu Oliveira. O pai, já que não podia comprar carne, colhia vagens, passava-as em ovos e farinha, e as fritava, que ficavam com o formato que lembrava peixinhos fritos.
          Dois peixinhos restaram na tigela, fartos que estávamos das entradas. Veio lá da cozinha a senhora que nos servia, despejou um em cada prato e disse, Isto não vai voltar! Fomos obrigados a comê-los...
          Até que chegou o bacalhau com batatas! O vinho, português naturalmente.




             Passando por Lisboa, não deixem de se fartar no Farta Brutos!


Fotos: A.Vianna, Lisboa, out. 2014.

3 comentários:

  1. Que delícia! O texto e as iguarias.
    Não há lugar no mundo como Portugal...

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  2. Achei uma gracinha esses peixinhos da horta. Devem ser uma delícia!!!

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    1. Mas você precisa comê-los acreditando que são peixinhos de verdade...

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