O pernoite em Lisboa era
movido por obrigação e devoção. O voo oriundo da Itália chegava em Portugal à
tarde, e a partida para o Brasil ocorreria apenas na manhã do dia seguinte.
Esta, a obrigação em pernoitar. Comer um bom bacalhau, eis a devoção!
Nas últimas vezes que
estivemos em Lisboa não fomos felizes na escolha dos restaurantes. Agora,
precisávamos acertar.
A nossa “guia” encontrou na
Internet um certo restaurante que costumava ser frequentado por ninguém menos
que José Saramago. Bem, era a fome com a vontade de comer...
Nome do lugar e da rua
tipicamente portugueses: Farta Brutos, na Travessa da Espera, 20, no Bairro
Alto. Quando anunciamos o endereço ao motorista de taxi, ele incontinenti perguntou, E onde fica a Travessa da Espera? (Era a certeza de que estávamos mesmo em Portugal...)
(O restaurante fica na esquina,
mas a entrada é pela terceira porta à esquerda.)
Chegamos sem dificuldade,
faltavam 15 minutos para as 8 da noite e a casa ainda estava fechada. Olhamos
por uma portinha diminuta (casa de bonecas?), buscando sinal de vida, e uma
senhora respondeu lá de baixo, Abrimos em 10 minutos.
Entramos pela portinhola,
descemos uma pequena rampa e chegamos ao único salão, com poucas mesas. As
paredes revestidas de madeira, prateleiras repletas de vinhos, e muitas, muitas
fotografias de frequentadores ilustres, quase sempre ao lado do proprietário,
Seu Oliveira.
(A mesa de Saramago é a última à direita.)
O tratamento que recebemos
foi o mais afetuoso possível. Seu Oliveira falou-nos do hábito de Saramago em
visitar o estabelecimento, sempre que vinha a Lisboa, Sentava-se ele sempre à
mesma mesa, aquela que lá está, com a plaquinha com o nome dele, éramos amigos,
cheguei a visitá-lo em Lanzarote, agora Pilar continua a cá vir, muito
simpática, nossa amiga também. Seu Oliveira tinha muito o que contar, enumerava
os brasileiros ilustres que comeram no Farta Brutos, alguns nem tão queridos
assim dos viajantes, até ex-presidentes lá estiveram.
Quando lhe perguntei sobre a origem do nome do restaurante, Seu Oliveira fitou-me com leve ar de espanto, como se Farta Brutos fosse o nome mais óbvio e natural do mundo. Não soube me responder.
De entrada, experimentamos
os “peixinhos da horta”, mas saborosa mesmo era a história dos petiscos. Era
pobre a família de Seu Oliveira. O pai, já que não podia comprar carne, colhia
vagens, passava-as em ovos e farinha, e as fritava, que ficavam com o formato
que lembrava peixinhos fritos.
Dois peixinhos restaram na tigela, fartos que estávamos das entradas. Veio lá da cozinha a senhora que nos servia, despejou um em cada prato e disse, Isto não vai voltar! Fomos obrigados a comê-los...
Dois peixinhos restaram na tigela, fartos que estávamos das entradas. Veio lá da cozinha a senhora que nos servia, despejou um em cada prato e disse, Isto não vai voltar! Fomos obrigados a comê-los...
Até que chegou o bacalhau
com batatas! O vinho, português naturalmente.
Passando por Lisboa, não deixem de se fartar no Farta Brutos!
Fotos: A.Vianna, Lisboa, out. 2014.
Foto da fachada: http://www.portugalrestaurants.com/restaurantes/Farta-Brutos.html
Que delícia! O texto e as iguarias.
ResponderExcluirNão há lugar no mundo como Portugal...
Achei uma gracinha esses peixinhos da horta. Devem ser uma delícia!!!
ResponderExcluirMas você precisa comê-los acreditando que são peixinhos de verdade...
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