Impressiona a
naturalidade com que Laerte, o cartunista, se apresenta perante o público,
vestido, penteado, produzido como ele se sente: uma mulher. Lembro-me da
primeira vez que o vi vestido assim, do espanto que me causou, pois já o
conhecia vestido de homem, quadrinista famoso que é, há muito tempo.
Hoje, confesso que ele desperta em mim enorme
simpatia, pela coragem, sinceridade, pela pessoa autêntica que revela ser.
Laerte me emociona.
Ele me ajuda a pensar – e aceitar –
as diferenças, coisa difícil para qualquer ser humano, desde tempos imemoriais.
Em se tratando de sexualidade, a intransigência, o preconceito, o
fundamentalismo acarretam reações muitas vezes violentas, diante das diferenças.
Mais inofensivo que Laerte,
impossível. Ele é apenas um artista, excelente cartunista, que não deseja
convencer ninguém de coisa alguma. Deseja tão somente desfrutar da liberdade de
exercer sua sexualidade do modo que melhor lhe convier. E o faz sem
espalhafatos, sem exibicionismo ou maneirismo, com absoluta espontaneidade.
Numa entrevista para a televisão eu
o vi relatar episódio engraçado, porém de grande significado, que reproduzo
aqui a meu modo, próximo ao que foi o original. Ele gostava de se vestir de
mulher e tinha dificuldade de dizer isso à mãe. Criou coragem e contou, ao que
ela retrucou, Eu tenho umas roupas que não uso mais, você pode pegá-las,
Laerte.
A instantânea compreensão da mãe, o
carinho que dispensou ao filho naquele momento, ajudaram-no em muito a superar
as próprias dificuldades.
Textos
e mais textos, sermões, pregações raivosas ou não, quase sempre de cunho
religioso e fundamentalista, tentando convencer as pessoas disso ou daquilo, do
“certo” ou “errado”, não têm a força do exemplo vivo – a melhor pedagogia! –
exibida por Laerte.
Perguntado
se gostaria de ser tratado por “ele” ou “ela”, disse que lhe era indiferente.
Ao final desta crônica, percebo que chamei-o de Ele.
Fica aqui meu agradecimento a ele,
por me ajudar a pensar as diferenças.
Foto: https://twitter.com/laertecoutinho1