Ao
meu amigo Aldo, flor do asfalto,
que
até hoje não sabia o que é um bolo cozido a sol.
Os adultos, com o sadismo
de cada um, adoram judiar das crianças. Estas, que ainda só percebem o lado
concreto das coisas, levam ao pé da letra o que vêem e ouvem. Lembro-me bem, eu
era um menino pequeno, bem pequeno, e me espantava com as perguntas que os
adultos me faziam, sempre em tom de galhofa, hoje descritas como pegadinhas.
– Que cor é o cavalo branco
de Napoleão?
Ora, eu nunca ouvira falar
naquele tal de Napoleão, nunca o vira mais gordo ou mais magro; como poderia
saber a cor do cavalo dele? Nem sabia que ele tinha cavalo.
– O que pesa mais, um quilo
de chumbo ou um quilo de algodão?
Pergunta mais besta, claro
que o chumbo pesa mais! Todo mundo sabe disso, comparar logo com algodão, a
coisa mais levinha que existe!
– O que você vai ser quando
crescer?
Esta não era bem uma
pegadinha, mas era tão irritante quanto. Será que eu tenho que ser outra coisa
diferente do que sou hoje, eu pensava. Dependendo do tom em que era formulada a
questão, ela soava como uma cobrança: você terá que ser alguma coisa no futuro.
Mas ser o quê? O que era ser? Aquilo era mesmo de atordoar.
– Quem nasceu primeiro, o
ovo ou a galinha?
Outra pergunta besta, claro
que a galinha veio primeiro, é ela quem bota o ovo! Alguém já viu ovo botar
galinha? No máximo, do ovo nasce um pintinho.
– O que você prefere? Um
bolo cozido a sol ou sete facadas na cabeça?
Não há dúvida que esta era
a pior delas. Bolo cozido a sol talvez não fosse ruim, mas sete facadas na
cabeça matariam qualquer um. Mas por que uma opção era ruim e a outra parecia boa? Até
que me explicaram o significado de bolo cozido a sol: uma bosta de vaca
daquelas bem grandes, redondas, que deixadas na estrada pelo animal, endureciam
com o sol, parecendo um bolo. ARGH!, que nojo!
Pois não é que, agora já
bem velho, esta questão – um bolo cozido
a sol, ou sete facadas na cabeça? – me veio à mente assim que terminou o
segundo debate entre os candidatos à Presidência da República há dois dias!
Obrigada! Ótimo texto!
ResponderExcluirNem eu sabia o que era bolo cozido a sol, André, apesar de, na infância, ter passado as férias escolares na roça, em Entre Rios de Minas...
É mesmo coisa da roça, Nazaré! Aprendi em Guará, aí no Vale do Paraíba.
ExcluirTive que interromper a leitura para uma sonora gargalhada! A crônica está antológica!
ResponderExcluirTenho quase certeza de que foi na hora da bosta de vaca...
ExcluirQue escrita gostosa!!! Fluida que vai...
ResponderExcluirEspecialmente gostei:
ResponderExcluir"– O que você vai ser quando crescer?
Esta não era bem uma pegadinha, mas era tão irritante quanto. Será que eu tenho que ser outra coisa diferente do que sou hoje, eu pensava."