Não posso admitir que eu seja um neófito em visitas a museus. Se posso
apreciá-los à altura é outra história, mas me considero um rato-de-museu.
Qualquer cidade que planejamos visitar, pergunto logo à minha mulher, Tem
museu? Se não tem, nada feito.
Pois me preparava para visitar o
Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, ou simplesmente Reina Sofia, em
Madri, onde descansa em paz a Guernica, de Pablo Picasso. Ao entrar no museu
procurei logo a sala do painel, e ao encontrá-la fui entrando, chegando perto,
mais perto, fui chegando chegando chegando, parece que uma sirene disparou, não
estava certo de tê-la ouvido, talvez muito distante, embora fosse agudo e estridente
o alarme, que não foi capaz de me deter, e fui chegando cada vez mais perto,
até que fui agarrado por dois seguranças. Foi quando acordei.
Não foi um sonho, eu não estava
dormindo. Estava numa espécie de transe, disparado pelo primeiro olhar ao
painel. Logo em seguida chegou minha mulher, André, André, a sirene é para você...
Envergonhado, pedi desculpas aos
guardas e me postei atrás da faixa riscada no chão, que não podia ser
ultrapassada e que eu nem reparei. Por sorte não fui confundido com um desses
psicopatas que esfaqueiam quadros ou martelam esculturas. Por via das dúvidas,
pude perceber que por um bom tempo os guardas não tiraram os olhos de mim,
enquanto eu apreciava o mural.
(Apenas duas obras de arte me
impressionaram mais que a Guernica: a Capela Sistina e o David, ambos de
Michelangelo.)
Semana passada, quando bati o olho na capa do livro e vi o nome de
Carlo Ginzburg, autor do recém lançado Medo,
reverência, terror, com o subtítulo Quatro ensaios de iconografia política
(Companhia das Letras, 2014), fui ao índice e lá estava A espada e a lâmpada: uma leitura de Guernica.
Pois o painel de Picasso permanece
intrigando estudiosos e críticos de arte, segundo Ginzburg:
“– uma pintura fundamentalmente
antifascista da qual o inimigo fascista está ausente, substituído por uma
comunidade de seres humanos e animais ligados pela tragédia e pela morte.”
A frase do autor de O queijo e os vermes deixou-me pensando se não é
isso mesmo: as únicas situações ainda capazes de mobilizar a humanidade, em
busca de um destino melhor: a tragédia e a morte. Os últimos acontecimentos em
nosso país apontam neste sentido.
Dr, se ainda não o fez, assista à este documentário: http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw
ResponderExcluirO documentário sugerido pelo extratodomiolo é espetacular! Imperdível! Marqvilhoso!
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