segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guernica revisitada



Não posso admitir que eu seja um neófito em visitas a museus. Se posso apreciá-los à altura é outra história, mas me considero um rato-de-museu. Qualquer cidade que planejamos visitar, pergunto logo à minha mulher, Tem museu? Se não tem, nada feito.
            Pois me preparava para visitar o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, ou simplesmente Reina Sofia, em Madri, onde descansa em paz a Guernica, de Pablo Picasso. Ao entrar no museu procurei logo a sala do painel, e ao encontrá-la fui entrando, chegando perto, mais perto, fui chegando chegando chegando, parece que uma sirene disparou, não estava certo de tê-la ouvido, talvez muito distante, embora fosse agudo e estridente o alarme, que não foi capaz de me deter, e fui chegando cada vez mais perto, até que fui agarrado por dois seguranças. Foi quando acordei.
            Não foi um sonho, eu não estava dormindo. Estava numa espécie de transe, disparado pelo primeiro olhar ao painel. Logo em seguida chegou minha mulher, André, André, a sirene é para você...
            Envergonhado, pedi desculpas aos guardas e me postei atrás da faixa riscada no chão, que não podia ser ultrapassada e que eu nem reparei. Por sorte não fui confundido com um desses psicopatas que esfaqueiam quadros ou martelam esculturas. Por via das dúvidas, pude perceber que por um bom tempo os guardas não tiraram os olhos de mim, enquanto eu apreciava o mural.
            (Apenas duas obras de arte me impressionaram mais que a Guernica: a Capela Sistina e o David, ambos de Michelangelo.)
Semana passada, quando bati o olho na capa do livro e vi o nome de Carlo Ginzburg, autor do recém lançado Medo, reverência, terror, com o subtítulo Quatro ensaios de iconografia política (Companhia das Letras, 2014), fui ao índice e lá estava A espada e a lâmpada: uma leitura de Guernica.
            Pois o painel de Picasso permanece intrigando estudiosos e críticos de arte, segundo Ginzburg:

“– uma pintura fundamentalmente antifascista da qual o inimigo fascista está ausente, substituído por uma comunidade de seres humanos e animais ligados pela tragédia e pela morte.”
           
A frase do autor de O queijo e os vermes deixou-me pensando se não é isso mesmo: as únicas situações ainda capazes de mobilizar a humanidade, em busca de um destino melhor: a tragédia e a morte. Os últimos acontecimentos em nosso país apontam neste sentido.  

2 comentários:

  1. Dr, se ainda não o fez, assista à este documentário: http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw

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    1. O documentário sugerido pelo extratodomiolo é espetacular! Imperdível! Marqvilhoso!

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