A crônica de Janio de Freitas na Folha de hoje traz
o sugestivo título de Brasil embrutecido. (1)
Escreve o articulista:
“Estamos,
no Brasil, em um agravamento da brutalidade que não cabe mais nos largos
limites do classificável como violência urbana. E não basta dizer que nada é
feito contra tal processo. O que se passa, de fato, é que nem sequer o notamos.
Convive-se com o agravamento como uma contingência incômoda, em seus momentos
mais gritantes, mas natural, meras desordens da desigualdade social.”
O acontecimento
da vez é o brutal assassinato de um torcedor em um ponto de ônibus, por
supostos torcedores rivais. Difícil acreditar que o motivo real possa ser um
jogo de futebol que, diga-se de passagem, terminou empatado, ou seja, sem
vencedores ou perdedores. Nem mesmo a tão falada desigualdade social pode ser
responsabilizada, sugere Freitas:
“O agravamento da brutalidade no Brasil é um processo em si
mesmo. E não está só nos territórios da pobreza. A própria incapacidade de
percebê-lo é um sintoma do embrutecimento sem distinções sociais, econômicas e
culturais. Outros sintomas poderiam ser notados – na deseducação, no
rebaixamento individual e coletivo dos costumes, em muito do que os meios de
comunicação tomam como modernidade, na política. Até onde a elevação do trato
entre suas excelências parecia inexaurível – no Supremo.
...À
espera do ônibus ou dentro do carro, branco, negro, pobre, rico: o Brasil se
embrutece. E o Brasil nem sequer se nota.”
Para que se consumasse o Holocausto
foi necessário um articulado embrutecimento das tropas alemãs, para que
pudessem fazer o que fizeram sem enlouquecer. Primo Levi descreve com maestria
tal situação em seu magnífico livro É isso
um homem? Trata-se de um processo de desumanização, e assim fica mais fácil
liquidar o inimigo não-humano.
Ao que se saiba, ainda não estamos
em guerra. Mas, o que é pior, estamos tratando como inimigo o sujeito que
simplesmente torce por outro time de futebol. O que não é crível. Só faltou o
fundo musical – a Nona de Beethoven – durante o espancamento.
Embrutecimento tem a ver com
deseducação. Se o espírito não se aprimora, o bruto animal fala mais alto. Em
linguagem popular, o bicho pega... Porém, as “providências” tomadas pelo
governo falam em repressão às torcidas organizadas, aumento do policiamento
dentro e fora dos estádios, endurecimento das leis, ou seja, tratam apenas das
consequências. O que há de levar a mais embrutecimento.
Educar é preciso, em todos os
sentidos. Este o verdadeiro remédio contra o embrutecimento.
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