sábado, 30 de junho de 2018

Poesia em jornal



“Um texto semanal, um instante para parar tudo e ler um poema. A partir deste momento, o EL PAÍS começa esta corrente semanal em que uma poeta ou um poeta indica o trabalho de outro até o começo da Festa Literária Internacional de Paraty(Flip), que homenageará a poeta Hilda Hilst.”
            O artigo é de André de Oliveira, para El País (25 JUN 2018).
Hilda nasceu em 1930, em Jaú, no interior de São Paulo, e morreu em 2004. Foi considerada difícil durante a vida, autora hermética. “Ela própria enxergava essas críticas como resultado do fato de que ela não fazia o que se esperava de uma mulher, não escrevia sobre o que se devia e nem vivia como se devia. A homenagem do evento de literatura vem para colocar as coisas nos devidos lugares.”
A primeira convidada foi Joselia Aguiar, atual curadora da Flip. Ela escolheu a poeta e tradutora Josely Vianna Baptista, com seu poema Guirá Nãndu– nome da Constelação da Ema, na cultura Tupi-Guarani –, publicado no livro Roça Barroca, que acaba de ser reeditado pela editora Sesi-SP e será lançado em agosto. 

Guirá Nãndu

Para Teodoro (sob a Constelação da Ema, cujas penas são desenhadas por claro-escuros da Via Láctea)

pode que a noite hoje
se furte a amanhecer
a terra desmorone
nos bordos do poente
e outra vez o sol
como antes
não desponte
em busca de outro sol
pode alguém se perder
abandonando o humano
para encontrar seu deus
– o mesmo que ao nascer
deu-lhe um nome secreto
de sua divindade
perfeito e repleto
pode que na viagem
no trajeto disperso
um homem adivinhe
a vereda possível
sem fim, de sol a sol
até que a fome e a febre
o êxtase à flor da pele
a intempérie, a prece
a dança em excesso
transportem o corpo adverso
e o espírito pulse
e respire
e confronte
o mar que o separa
da terra indestrutível
quem sabe o paraíso
que descrevem os antigos
não esteja além do vasto
nevoeiro e sargaço
mas no árduo percurso
vencido passo a passo
sem bússola ou mapa do céu
em pergaminho
talvez além do zênite
que ofusca o caminho
deixando um invisível
roteiro para os olhos
que enfrentam o escuro
entre os dois
crepúsculos

Brilhante iniciativa do El País!




Giannetti vira-lata


*

À primeira vista, o título não atrai o leitor, muito menos a capa do livro. Porém, quem conhece o autor tem certeza de que vai encontrar ótimo texto. Falo do lançamento recente de O elogio do vira-lata e outros ensaios (Companhia da Letras, 2018), de Eduardo Giannetti.
            O primeiro ensaio – que empresta o título ao livro – é magistral! Eis sua conclusão:

“Ao vira-lata repugna o culto da pureza em suas múltiplas manifestações: a raça pura; a lógica pura; a razão pura; a vontade pura (no sentido de um senso de dever categórico desligado de qualquer inclinação ou motivação pessoal de quem age, como no “lenho reto” da ética kantiana). Ao vira-lata repugna a noção de que o índice de valor de uma pessoa se define pela competência para ganhar dinheiro, pela astúcia em galgar postos de poder ou pela intransigente adesão a um credo de qualquer natureza.
O vira-la celebra os valores da amizade, do convívio e da amabilidade sem cálculos; a disponibilidade para desfrutar intensamente o memento; o prazer de sorrir e saudar a todos que com ela ou ele casualmente cruzam nas ruas; a eterna disposição de festejar e brincar, por mais tênue que seja (ou não) o pretexto; o doce sentimento da existência nos climas e ecopsicologias onde o mero existir é um prazer; a experimentação inovadora na arte da vida. Amor sem coleira, trabalho sem patrão. Para o vira-lata, “a alegria é a prova dos nove”.”

            Penso que estes dois parágrafos são suficientes para que o leitor possa apreciar o estilo e a elegância do texto de Giannetti. Talvez a maior de suas virtudes seja a de escrever com absoluta clareza, certamente porque ele sabe pensar claro.
            O livro é composto por 25 textos escritos entre 1989 e 2018, com temas os mais variados: O paradoxo do brasileiro, Por que ler Aristóteles hoje?, Um prefácio para Dom Casmurro, Leite derramado, A genialidade de Mozart, J. S. Bach: Partita II para violino solo, A riqueza e a pobreza das nações, entre outros.
            Leitura obrigatória!

sexta-feira, 29 de junho de 2018

quinta-feira, 28 de junho de 2018

flores-de-junho





as flores-de-maio
também florescem em junho
ainda mais lindas


Foto: AVianna, jun 2018.

Flores do coentro

fotominimalismo




Foto: AVianna, jun 2018.

O que é pior?


...
– O que é pior, perder de 7 a 1 ou ser eliminado na fase de grupos?
– Perder de 7 a 1.
– Mesmo perdendo de 2 a 0 para a Coreia?
– 7 a 1.
– E ficar em ultimo lugar no grupo?
– 7 a 1.
– Então nada pode ser pior que o 7 a 1?
– Sim, pode: 8, 9 , 10 a 1.
– Não há remédio para o 7 a 1?
– Há sim, esquecer-se dele, jamais.
– Como a Copa de 50?
– Que o passar do tempo alivia mas não apaga.
...

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Paula Vianna Brilha na Austrália

Em recente concurso de fotografia submarina ocorrido na Austrália, o Nautilus Underwater Photo Competition, nossa Paula ganhou o primeiro prêmio em duas categorias.
Foi vencedora do People's Choice Award, recebendo como prêmio uma viagem de 7 dias para mergulhar em Papua Nova Guiné, com a seguinte foto:


Na categoria Highly Commended, ganhou o primeiro lugar com a foto que se segue: 

            
            Parabéns, Paula! Estamos todos muito orgulhosos de você, que com muito esforço e autodidatismo, consolida-se como fotógrafa submarina premiada!


Página do concurso na Internet: 


Coisas do futebol 2


Ele tinha dúvida quanto à validade do VAR. Depois do gol da Coreia sobre a Alemanha, tornou-se defensor ferrenho do vídeo.

Coisas do futebol


Completamente ignorante em futebol, marcou no bolão 2 a 0 para a Coreia diante da Alemanha. Ganhou um dinheirão.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Tentativa de conversão


Em animada conversa com o amigo que crê, o ateu relata a interessante história da própria bisavó, que teve uma boa morte. Conta ele: 
– Ela, passada dos 80, e a filha, minha avó, cultivavam o sagrado hábito de rezar antes de dormir. A velha já deitada e bem protegida do frio acompanhava em silêncio a Ave Maria e o Pai Nosso recitados em voz alta pela filha ajoelhada à cabeceira. Ao terminar, Boa noite, Boa noite, mais um dia vencido.
Naquela noite especial, finda a ladainha, Boa noite... Boa noite... Não se ouviu resposta. A filha levantou-se, repetiu junto ao ouvido da mãe e com voz mais forte Boa noite, e como não houvesse resposta, balançou-lhe o braço inerte. A velha estava morta.
Aquele que crê ouve com a máxima atenção o relato do amigo ateu. Este agora passa a falar com certo entusiasmo da boa morte que teve a bisavó, diz que gostaria muito de morrer assim, morte melhor não poderia haver, aquilo é que era morrer em paz! 
E pergunta: 
– O que será preciso para que se desfrute de tamanha dádiva?
O amigo que crê responde:
– Não custa tentar, experimente rezar antes de dormir...

110 anos de Guimarães Rosa

Em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967, João Guimarães Rosa começou descrevendo, com a maestria própria, sua terra natal:

“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entre gentis morros ou sob o demais de estrelas.”

Três dias depois de ser empossado na Academia Brasileira de Letras, João Guimarães Rosa teve um ataque cardíaco e morreu. Ele havia sido indicado para o prêmio Nobel de Literatura.
Amanhã, dia 27 de junho, são comemorados 110 anos de seu nascimento. 


Capela São José, patrimônio da cidade
Foto: Atílio Avancini

O artigo de Leila Kiyomura (22 jun 2018) para o Jornal da USP, trata do acervo de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que foi adquirido em 1972, cinco anos depois de sua morte. É a principal fonte para quem pesquisa o autor.”
Afirma Kiyomura: “É a essência do mundo mágico e do sertão de João Guimarães Rosa que os estudantes, professores e pesquisadores encontram no acervo do escritor no IEB. “Esse acervo é composto da biblioteca, com cerca de 3.500 volumes, com uma variedade ampla de assuntos, e há também o arquivo documental, com os seus cadernos de anotações, livros inacabados, fotos e uma infinidade de documentos”, conta a professora Sandra Guardini Vasconcelos, professora do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.” 
A professora fala sobre o escritor, sua obra e o acervo adquirido pela USP: “Guimarães Rosa começa sua carreira literária em 1946, com o livro de contos Sagarana, que foi muito elogiado pela crítica. Dez anos depois, lança duas obras monumentais: Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. E se torna um escritor reconhecido, definitivamente incorporado na grande galeria dos escritores brasileiros.”


Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Escreve Kiyomura: “Emociona ver as primeiras páginas do diário da viagem que Rosa fez em 1952 (muitas dessas anotações serviriam posteriormente para a redação de Corpo de Baile), originais que revelam o escritor lapidando cada palavra, lendo e relendo. Um apuro de um escritor artesão e que tornou sua obra uma arte universal, como bem lembrava Antonio Cândido. O crítico e professor da USP afirmou: “A gente sentia que o regionalismo dele tinha universalidade dos temas, uma vibração espiritual sobre os grandes problemas que atormentam o homem. A linguagem dele não era documentária, na verdade ele estava criando, inventando uma linguagem plantada em Cordisburgo, mas estava ligada às raízes da língua portuguesa.” 

 

Cadernos contêm também desenhos de Guimarães Rosa
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

            Ler-reler-ler-outra-vez-ler-sempre Grande Sertão – Veredas, eis o maior prazer que um livro pode nos proporcionar.



Imagens do futebol

A foto do dia

 

Foto: Rodrigo Villalba

Os jogadores da imagem são Sadio Mané, a estrela de Senegal e jogador do Liverpool, e Thiago Rangel Cionek, zagueiro da Polônia e jogador do SPAL da Itália. Ele nasceu no Brasil e se naturalizou polonês quando jogava no Jagiellonia Białystok. “Foi aos 35 minutos do segundo tempo. Mané caiu e Cionek o ajudou a se levantar. No momento em que vi como se davam as mãos sabia que tinha a foto que queria”, afirma Villalba. 


segunda-feira, 25 de junho de 2018

Desconstruindo a liberdade

Charge do dia



Cão de Giacometti



Cão

Grande exposição de obras de Alberto Giacometti no Guggenheim de Nova Iorque.
Este blogueiro não poderia deixar de registrar a escultura do cachorro.

Foto: AVianna, jun 2018.

Reinvenção da arbitragem


Assistentes de vídeo durante uma partida
Foto: Shaun Botteril


            Após duas semanas de férias o Louco por cachorros volta à ativa, e o assunto não poderia ser outro que não a Copa do Mundo na Rússia. Há tanto o que escrever! O Futebol (vou grafá-lo assim, sempre com maiúsculas!) é coisa séria e envolve volume enorme de atividades paralelas, desde o pipoqueiro na entrada do estádio até o roupeiro da cada time, do perna-de-pau até o craque mais bem pago do mundo, da seleção que disputa a primeira Copa e faz o seu primeiro gol em mundiais até os pentacampeões brasileiros. Tudo isso é Futebol e muito mais.
            Quem afirma que não gosta de Futebol é ruim da cabeça ou tem implicância com o esporte, porque nunca parou para analisar o jogo e considerar sua complexidade. É um jogo de poucas regras, geralmente simples, com exceção do impedimento, regra que as mulheres têm grande dificuldade para compreender.
            Pois esta simplicidade está agora sendo ameaçada, com a tentativa de se reinventar a arbitragem. Trata-se do sistema de vídeo-arbitragem, ou VAR (video assistant referee,ou árbitro assistente de vídeo), composto por um conjunto de câmeras que transmitem as imagens para uma sala isolada do campo, onde assistentes de vídeo podem rever as jogadas. 
Esta assistência pode ocorrer a pedido do árbitro (em caso de dúvida em uma jogada, que pode ser revista), ou caso os assistentes observem um lance duvidoso e comuniquem o juiz da partida através do fone de ouvido. Então, os assistentes de vídeo reproduzem as imagens e transmitem suas conclusões ao árbitro. É este último que toma a decisão final, depois de consultar as imagens em um monitor localizado na lateral, ou confiar exclusivamente no critério dos assistentes.
Podem ser revistas pelo VAR as seguintes jogadas (para quem ouviu cantar o galo mas não sabe aonde):

1 - Gols
Os assistentes asseguram que a decisão correta seja tomada quando um gol é marcado; segundo o site da FIFA, para "ajudar o árbitro a determinar se houve alguma infração que impeça de validar o gol". Inicialmente, pensava-se que o VAR não poderia corrigir o impedimento, porque este não é mencionado nas quatro situações (gols, pênaltis, cartões vermelhos e erros de identidade), mas, na verdade, o sistema está habilitado para reverter qualquer ação que possa ter influenciado um gol. 

2 -Pênaltis
Os assistentes asseguram que a decisão correta seja tomada ao se marcar (ou não) um pênalti.

3 - Cartões vermelhos
Também colaboram para garantir que um jogador receba a merecida punição em caso de dúvida sobre a seriedade de uma falta ou infração.

4 - Erro de identidade de jogadores
Em alguns lances com a participação de muitos jogadores, o árbitro não sabe quem fez a falta ou não vê o que acontece. Os assistentes de vídeo podem ajudá-lo a determinar quem cometeu a falta para não para advertir ou expulsar o jogador errado.

            Não há dúvida quanto à boa intenção da FIFA ao estabelecer estas novas regras de arbitragem. 
Analisemos a seguinte situação. Um certo time investe uma fortuna para formar uma grande equipe, chega para disputar a final do campeonato, e é sumariamente prejudicado pelo juiz incompetente ou tendencioso, que marca um pênalti inexistente ou deixa de marcar um pênalti claro. (Fato ocorrido no Campeonato Paulista deste ano, disputado entre Palmeiras e Corinthians.) Todo o esforço do clube foi por água abaixo, por causa de uma decisão errada de uma única pessoa. Nesse caso o VAR pode fazer justiça!
Tira o gosto do imprevisível do Futebol? Talvez, um pouco. Futebol não é xadrez, o pênalti não marcado pode vir a ser motivo de boas conversas e sonoras gargalhadas ao longo dos anos entre dois amigos, é disso que vivem os comentaristas de Futebol e sobrevivem as famosas mesas redondas, com discussões intermináveis sobre times e jogos. (Adoro essas tais mesas, não há nada mais relaxante.)
Estava por terminar esta pobre crônica quando a interrompi para assistir Portugal versus Irã (Iran, no original). O VAR funcionou como nunca! Serviu para marcar pênalti contra Portugal, que Cristiano Ronaldo perdeu (ou o bom goleiro do Irã defendeu); apontou ainda agressão do mesmo CR7 a um iraniano, que resultou apenas em cartão amarelo; e ao término do jogo, apontou pênalti contra os portugueses, convertido pelos iranianos.
Como tudo na vida, há prós e contras sobre o uso do VAR. É  esperar para VER...


sábado, 9 de junho de 2018

Palmeiras Campeão Mundial Sub-17



Palmeiras campeão mundial sub-17 em Madrid

Palmeiras venceu o Real Madrid por 4 a 2 e sagrou-se campeão mundial sub-17, nesta quarta-feira em Madri, na Espanha.

Homenagem a Maria Esther Bueno

A foto do dia



Maria Esther em Wimbledon, 1959.


Morreu ontem  a maior tenista brasileira.

Foto: Arquivo / AP

Esperantista, corredor, etc







Curitiba sediou o 53º Congresso Brasileiro de Esperanto e o 38º Congresso da Juventude Esperantista Brasileira, de 31 de maio a 3 de junho de 2018. 
Informa Paulo Viana, esperantista de renome internacional, em seu blog: “Centenas de Esperantistas brasileiros (e alguns estrangeiros) assistiram a palestras sobre os mais variados temas, discussões, momentos de arte, sessões de exames de proficiência (pelo Quadro de Referência Europeu), serviço de livraria. A abertura e o encerramento, realizados no Memorial da cidade, tiveram numerosa participação da população local. Artistas de Curitiba mostraram a sua diversidade cultural por meio de música e dança regionais.” 
          Pela primeira vez, no programa do congresso, aconteceu a Corrida Esperanto, pela Paz e pela Diversidade, promovida no Parque Tingui, com a presença de numerosos corredores e caminhantes Esperantistas e não Esperantistas, todos premiados com uma bela medalha.
Paulo Sergio Viana, médico, leitor, escritor, poeta, esperantista, corredor e avô ocupou o pódio, como mostra a foto, portando trofeu e medalha, para orgulho dos amigos e de toda a Família! 
            





quinta-feira, 7 de junho de 2018

A Grande Conquista



António Damásio é professor de Neurociência, Psicologia e Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institutena University of Southern California, em Los Angeles.
            Seu último livro A estranha ordem das coisas – a vida, os sentimentos e as culturas humanas (Ed. Temas e debates – Círculo de leitores, Lisboa, 2017) apresenta uma síntese do conjunto de estudos e pesquisas de uma vida inteira, e por isso mesmo é monumental.
            O livro é de uma densidade incrível, cada parágrafo precisa ser lido cuidadosamente pois contém afirmações e conceitos profundos, complexos, revolucionários, e que escapam à nossa mente acostumada às trivialidades do cotidiano. 
            Impossível resumi-lo, de modo que este blogueiro pretende apresentar alguns trechos esparsos, na esperança de que façam algum sentido ao leitor, e que venham estimular a leitura da obra.
            À página 114 Damásio está a discorrer sobre o que chama de “A Grande Conquista”: “A capacidade de gerar imagens possibilitou que os organismos representassem o mundo em seu redor; ... e o mundo do seu interior.” ...  “A existência de imagens só foi possível depois da complexidade dos sistemas nervosos atingir um nível particularmente elevado.”
            Vamos ao trecho escolhido:

“Assim sendo, os passos a serem seguidos na evolução tornam-se bastante claros. 
Em primeiro lugar, servindo-se de imagens feitas a partir dos mais antigos componentes do interior do organismo – os processos de química metabólica desenvolvidos, em geral, nas vísceras e na circulação sanguínea e nos movimentos por eles gerados –, a natureza veio gradualmente a desenvolver sentimentos.
Em segundo lugar, servindo-se de imagens de um componente interior bem menos velho – a estrutura esquelética e os músculos que a ela estão ligados –, a natureza desenvolveu uma representação do envolvente de cada vida, uma representação literal da casa habitada por cada vida. A eventual combinação destes dois conjuntos de representações abriu caminho à consciência.
Em terceiro lugar, servindo-se destes mesmos dispositivos de criação de imagens e do poder inerente às imagens – o poder de representar algo e simbolizar –, a natureza desenvolveu as linguagens verbais.”

            Os negritos são meus, para destacar quão fundamentais são os temas aqui abordados.

(O livro ainda não foi publicado no Brasil; a edição referida acima é de Portugal.)


Palmeiras vence outra vez

A  foto do dia


Estupenda vitória do Palmeiras ontem sobre o Grêmio, em Porto Alegre, com 2 gols de William (foto).

Foto: Divulgação / Palmeiras

Macabra surpresa


Ao plantar batatas no quintal, encontrou o crânio do ex-marido de sua própria mulher.



Variações sobre o mesmo tema









pequeninas rosas
como que mudam de cor
à primeira luz




Fotos: AVianna, IPhone 8S, à primeira luz da manhã.

Ironia

Inspirado em pequeno texto 
de L. F. Verissimo

Devagar, testando o chão a cada passo, o velho aproximou-se da mesa onde todos já estavam sentados. A netinha exlamou:
– Aí vem The Flash. 


Voto difícil

Diante da urna eleitoral, respirou fundo, fechou os olhos e teclou um número. Confirmou o voto e exclamou:
– Seja o que Deus quiser.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Macaco-de-cheiro

A foto do dia


Macaco-de-cheiro, Reserva Mamirauá



Foto: Heriberto Araújo


Gracián y Karnal


Baltasar Gracián

Em ótima crônica intitulada Quem precisa de sabedoria instantânea(6 jun 2018, em O Estado de S. Paulo), Leandro Karnal escreve sobre a obra de Baltasar Gracián y Morales (1601-1658), jesuíta de origem modesta, cuja obra mais divulgada chamou-se Oráculo Manual e Arte de Prudência, publicada em 1647. 
Informa Karnal: “A estrutura da redação é clara: aforismos sobre temas variados em linguagem bastante direta, muito distante da futura forma do El Criticón. São 300 máximas curtas, parágrafos rápidos, fácil leitura e aplicação imediata: eis a fórmula do sucesso do livro publicado pelo jesuíta sob pseudônimo. Era uma sabedoria profana, pouco mística e decididamente pessimista.”   
Eis alguns exemplos:
1     Nunca se sobressair ao chefe especialmente no campo do talento (7); 
2     relacione-se com pessoas que tenham algo a ensinar (11); 
3     não crie expectativas muito altas, pois “a realidade não se compara à imaginação” (19); 
4     saber esperar é importante, pois como diz um ditado “eu e o tempo podemos enfrentar quaisquer outros dois” (55); 
5     saiba dizer não aos outros deixando um vislumbre de esperança para amenizar o desapontamento (70); 
6     saiba dosar as brincadeiras porque tudo que é excessivo perde o valor, é cansativo e desgasta (76); 
7     os cautelosos sabem quando aposentar um cavalo de corrida sem esperar que ele sofra uma queda em plena competição (110); 
8     não ser sempre do contra para não parecer tolo e irritante (125); 
9     sem mentir, não revelar toda a verdade em qualquer circunstância ou a qualquer pessoa (181); 
10  no Céu tudo é alegria, no Inferno tudo é tristeza, na Terra (que está no meio) existem ambas as coisas (211); 
11  nunca romper definitivamente pois poucas pessoas são capazes de praticar o bem e quase todas são capazes de praticar o mal (257).  

Já que os conselhos de tão alta sabedoria permanecem mais atuais do que nunca, será que devemos concluir que pouco ou nada mudou a Humanidade? 



terça-feira, 5 de junho de 2018

Pessoas Altamente Sensíveis


“Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) têm consciência de detalhes muito sutis em seu entorno. Também são reflexivas, intuitivas, criativas, empáticas e cuidadosas. Mas essa característica, como qualquer outra, também têm seus inconvenientes: essas pessoas podem ser muito precavidas e voltadas demais para seu interior. Às vezes se sentem sobrecarregadas e exaustas pela intensa atividade ao estarem, por exemplo com muita gente em ambientes muito barulhentos.”
            Assim tem início a reportagem de Jaime Rubio Hancock para El País (5 jun 2018), cujo título é Equilíbrio e sensibilidade: assim é uma pessoa altamente sensível.
Não se trata de qualquer transtorno mental e sim de algo normal, “uma característica basicamente neutra”, segundo Elaine Aron. De 15% a 20% da população são altamente sensíveis, em diferentes graus, e outros 22%, moderadamente sensíveis. 
“Apesar de esse traço ser associado com frequência com outros, como a introversão e a timidez, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, afirma que eles “têm semelhanças, mas são diferentes entre si”, a ponto de 30% das PAS serem extrovertidas.” 
            Nossa sociedade valoriza pessoas extrovertidas, sociáveis e despreocupadas, o que é muito bom, mas não vê com tão bons olhos quem se mostra mais sensível ou precisa de tempo para fica sozinho. Como escreve Aron, “existe essa pressão para fazer o que todos fazem, para serem normais, manter as aparências, fazer amigos, satisfazer as expectativas de todos...”. Isso faz com que as PAS tenham a sensação de “estar indo contra a corrente porque não gostam do que todo mundo gosta e parece que a cultura não os aceita. Em resumo, “você não consegue se encaixar, por mais que tente”.
Afirma Hancock: “Do mesmo modo que uma pessoa muito sociável também precisa aprender a estar só, uma PAS tem que buscar o ponto médio entre se forçar demais no mundo exterior (assumindo muitas responsabilidades, por exemplo) e se manter longe demais no seu interior. Isso significa que às vezes tem de se proteger demais, “quando na realidade o que deseja é estar fora, no mundo”, como escreve Aron. A psicóloga acrescenta que “talvez o mais difícil de tudo seja decidir até onde se proteger, até onde se forçar”, sem deixar de valorizar uma característica que “proporciona muitas coisas de que os demais carecem”.
Por exemplo, Alcón conta que há sábados em que gosta de ficar em casa com um livro e outros em que sai com os amigos, mas conhecendo seus limites: “Talvez eu chegue um pouco mais tarde e saia antes”, conta. “Trata-se de encontrar o equilíbrio” e favorecer “um entorno de conforto em que você possa ser você mesmo”.
O artigo resume o tema ao final: “Uma amostra interessante de como a cultura molda nossa visão sobre a sensibilidade está em um dado que Aron expõe em seu livro: os porcentuais de homens e mulheres PAS são similares. Mas a psicóloga diz que “a cultura determina diferenças”, principalmente porque (ainda) meninos e meninas tendem a ser tratados de forma diferente no que se refere a sua sensibilidade. No caso dos meninos a tendência é reprimir essa sensibilidade, enquanto no das meninas ela é potencializada e podem chegar a ser superprotegidas.
Esse preconceito cultural se mantém na idade adulta, escreve Elaine Aron. De fato, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, explica que em consulta recebe “homens com evidente dificuldade de mostrar essa sensibilidade ou expressar as emoções relacionadas com ela, como o choro ou o medo”.

            Não me considero uma PAS (bem ao contrário), porém posso identificar entre amigos, colegas e conhecidos, pessoas que se encaixam nessa condição. Reconhecer isso certamente me ajuda no relacionamento com elas; posso ser mais cuidadoso, medir um pouco mais as palavras, os gestos, respeitar um comportamento que é bem diferente do meu modo estabanado de ser.