Nos
seminários realizados com os alunos de graduação em Medicina ao longo de 33
anos, invariavelmente surgia a questão religiosa. Deve-se respeitar a fé do
paciente? Ou buscar convertê-lo à crença do médico, com o intuito de estreitar a
relação médico-paciente e consequentemente tornar mais fácil o apoio psíquico?
Se o paciente é ateu e o médico religioso, este deve influenciá-lo, visando o
chamado conforto espiritual que a religião pode oferecer?
Os
estudantes foram quase unânimes em responder que a crença do paciente deveria
ser sempre respeitada. Caso ele fosse ateu, alguns pensavam que o médico
poderia oferecer-lhe uma alternativa, ao falar, por exemplo, na existência de
Deus e na justiça divina.
Apenas
uma vez, lembro-me bem, um aluno do último ano de Medicina foi categórico ao
afirmar que sempre tentava trazer o paciente para a sua própria religião.
Diante da reação imediata e contrária do grupo, ele se justificou calmamente:
–
Acredito que a minha crença religiosa seja a ideal, e que haverá de conduzir à
salvação, na eternidade, aqueles que a professam. Se isso é o melhor para mim,
creio que também o seja para meus pacientes.
Não
tenho dúvidas de que o aluno estava sendo sincero. Ele apenas não podia
conceber a ideia de que existe a verdade de cada um.
Tornaram-se
clássicos os cinco estágios de comportamento diante da notícia de que o
paciente é portador de doença grave e incurável, estabelecidos por Elisabeth
Kübler-Ross: (1) negação e isolamento; (2) raiva; (3) barganha; (4) depressão;
(5) aceitação. Eles nem sempre estão presentes, e não necessariamente nesta
ordem. Porém, nos dois primeiros estágios, especialmente quando o paciente está
tomado por ódio, a pergunta que explode de seu interior é Por que tinha que
acontecer comigo? Nesse momento, tentar incutir-lhe alguma crença ou
simplesmente tentar aliviar sua aflição com palavras do tipo “é a vontade de
Deus”, “Deus sabe o que faz”, “seja paciente e confie em Deus”, isso pode
causar-lhe frustração ainda maior, agravando-lhe a dor psíquica.
Segundo Kübler-Ross, nesta fase, o padre ou pastor incapazes de tolerar a "blasfêmia" do paciente - Deus não existe - podem incorrer no erro da tentativa de convencimento, gerando mais ódio. O que de melhor se pode fazer nesses momentos é ouvir, ouvir, ouvir, para que o paciente possa acreditar que você está do lado dele.
Segundo Kübler-Ross, nesta fase, o padre ou pastor incapazes de tolerar a "blasfêmia" do paciente - Deus não existe - podem incorrer no erro da tentativa de convencimento, gerando mais ódio. O que de melhor se pode fazer nesses momentos é ouvir, ouvir, ouvir, para que o paciente possa acreditar que você está do lado dele.