Política sem palavras
Foto: Sputnik / AFP
O Museu de História Natural de Londres divulga nesta terça os vencedores do prêmio Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano. Aberta para fotógrafos profissionais e amadores, a competição premia retratos singelos de momentos únicos na natureza. BBC News Brasil, para a Folha (9 fev 2022).
Dançando na Neve - Qiang Guo, China
“Na Reserva Natural Lishan, na província de Shanxi, na China, Qiang observou dois faisões dourados machos trocando continuamente de lugar neste tronco -movimentos semelhantes a uma dança silenciosa na neve.”
“Os filhotes de urso preto costumam subir em árvores, onde esperam com segurança que a mãe volte com comida. Aqui, nas profundezas da floresta temperada de Anan, no Alasca, este pequeno filhote decidiu tirar uma soneca à tarde em um galho coberto de musgo sob o olhar atento de uma águia careca juvenil.”
“Jo-Anne foi para a Austrália no início de 2020 para documentar as histórias de animais afetados pelos devastadores incêndios florestais que estavam varrendo os estados de Nova Gales do Sul e Victoria. Trabalhando exaustivamente ao lado da Animals Australia (uma organização de proteção animal), ela teve acesso a locais de queimada, resgates e missões veterinárias.”
“O Lago Santa Croce é um lago natural localizado na província de Belluno, Itália. No inverno de 2019, Cristiano notou que a água estava excepcionalmente alta e os salgueiros estavam parcialmente submersos, criando um jogo de luzes e reflexos.”
“Durante uma visita ao Maasai Mara, no Quênia, Ashleigh capturou este momento de ternura entre um par de leões machos. Mas quando a chuva se transformou em um aguaceiro pesado, o segundo macho voltou e sentou-se, posicionando seu corpo como se para abrigar o outro. Pouco depois, eles esfregaram os rostos e continuaram sentados acariciando por algum tempo.”
Bo, resgatado pelo Projeto Chimps, em Morgantown, EUA
Melissa Golden
“Chimpanzés usam insetos para tratar feridas, mostra novo estudo.” Reportagem de Nicholas Bakalar para The New York Times, publicada na Folha de S. Paulo hoje.
“Desde 2005, pesquisadores vêm estudando uma comunidade de aproximadamente 45 chimpanzés no Parque Nacional Loango, no Gabão. De novembro de 2019 a fevereiro de 2021, os pesquisadores notaram 76 feridas abertas em 22 chimpanzés. Em 19 casos eles viram um deles realizar o que parecia um autotratamento da ferida, usando um inseto como remédio. Em alguns casos, um chimpanzé parecia tratar outro. Os cientistas publicaram suas observações na revista Current Biology na segunda-feira.”
“O procedimento era semelhante em todas as ocasiões. Primeiro, os chimpanzés pegavam um inseto voador; depois o imobilizavam, apertando-o entre os lábios. Aí colocavam o inseto sobre a ferida, movendo-o em círculo com as pontas dos dedos. Finalmente, retiravam o inseto, usando a boca ou os dedos. Com frequência eles colocavam o inseto na ferida e o retiravam diversas vezes.”
“Os pesquisadores não sabem que inseto os chimpanzés usavam, ou exatamente como ele pode ajudar a curar um ferimento. Sabem que eram pequenos insetos voadores de cor escura. Não há evidência de que os chimpanzés comam os insetos — eles com certeza os espremem entre os lábios e os aplicam sobre os ferimentos.”
“Em três casos, os pesquisadores viram os chimpanzés usarem a técnica em outro chimpanzé. Em um deles, uma fêmea adulta chamada Carol cuidou de um ferimento na perna de um macho adulto, Littlegrey. Ela pegou um inseto e o deu a Littlegrey, que o colocou entre os lábios e o aplicou na ferida. Mais tarde, Carol e outro macho adulto foram vistos esfregando o inseto em torno da ferida de Littlegrey. Outro macho adulto se aproximou, retirou o inseto da ferida, colocou-o entre seus lábios e depois o reaplicou na perna de Littlegrey.”
“Aaron Sandel, antropólogo na Universidade do Texas em Austin, achou o trabalho valioso, mas ao mesmo tempo manifestou certas dúvidas. "Eles não oferecem uma explicação alternativa para o comportamento, nem fazem conexão com que inseto poderia ser", disse. "O salto para uma potencial função médica é um exagero, nesta altura. Mas, disse ele, "cuidar de seus próprios ferimentos ou de outros usando um instrumento, outro objeto, é muito raro". A documentação dos chimpanzés cuidando de outros é "uma importante contribuição para o estudo do comportamento social dos macacos", acrescentou Sandel. "E é interessante também perguntar se há empatia envolvida nisso, como nos humanos."
Acrescento eu: as dúvidas levantadas por Aaron Sandel fazem parte do chamado método científico. Pesquisar e duvidar são elementos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência. O que não impede que o mesmo pesquisador possa fazer, no caso em questão, a interessantíssima pergunta: “Há empatia envolvida nisso?” A resposta, ninguém sabe ainda.