quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Futebol bruto




Escrevo poucas horas depois da brilhante vitória do Palmeiras sobre o Fluminense pelo elegante placar de 3 a 0, com direito a gol de placa de Felipe Melo.
            Não é um torcedor do Internacional, do Flamengo, do São Paulo ou do desvalido Corinthians, ameaçado de rebaixamento, quem escreve, e que poderia ser acusado de ressentimento, mágoa, inveja ou outros sentimentos do mesmo naipe, pela provável perda do Campeonato Brasileiro de 2018 para o Palmeiras. É um palmeirense genuíno quem escreve, torcedor desde que se entende por gente, criança ainda vivendo no interior, muito antes da invenção da Internet. Portanto, não há qualquer sentimento pessoal negativo no que passo a registrar em seguida.
            O futebol brasileiro anda muito feio!
            Anos atrás os cronistas esportivos chamavam o futebol europeu, em particular o inglês, de futebol força. Nós tínhamos o futebol arte! Pois isso inverteu-se completamente. Dá gosto ver um Barcelona ou um Real Madri jogando. Por aqui, sobram caneladas.
            Os jogos são interrompidos a cada minuto pelas faltas (ou infrações) praticadas por jogadores de ambos os times, de modo que ao final no jogo o torcedor vê menos de 50% do tempo com a bola rolando. (A Fifa sugere no mínimo 60%.) Leva-se uma eternidade para a arrumação da barreira e cobrança de uma falta. O tempo de jogo é surrupiado, o torcedor enganado. É fraude.
            Porém, o que desejo mesmo salientar são os dois tipos de falta tão em moda no futebol de hoje no Brasil, ambas detestáveis, covardes, desumanas, repugnantes mesmo. Precisariam ser combatidas com veemência pelos árbitros, implacavelmente  com o cartão vermelho. 
A primeira delas chamo de pisão-no-pé. O jogador tem a bola nos pés e ainda não teve tempo de decidir o que fazer com ela; o adversário chega com força desmedida, com violência mesmo, e pisa-lhe o pé, crava-lhe as travas da chuteira no dorso do pé do inimigo. Esquece a bola e visa tão somente o pé do adversário. Muitas vezes a bola já nem está por perto, mas sobra o famigerado pisão. As consequências podem ser graves, como torções, rompimento de ligamentos, e até fraturas. O juiz (é assim que o árbitro era chamado no meu tempo de criança) quase sempre aplica o cartão amarelo. Só o uso do vermelho será capaz de coibir esta prática detestável tão difundida em nosso futebol. 
            A segunda falta chamo de mão-na-cara, ou cotovelo-na-cara. Em qualquer tipo de disputa, mesmo sem qualquer perigo de gol, o jogador agressor olha para a bola mas seu braço é dirigido para a face do adversário, atingindo o nariz, a boca, os olhos, o supercílio, com frequência causando algum tipo de sangramento. Muitas vezes o cotovelo é utilizado para a agressão, brutalidade pura. A palavra que se aplica ao lance é mesmo agressão. Por isso, com maior frequência é punida com expulsão. 
            Tudo isso enfeia muito o nosso futebol. Falta educação e humanidade ao jogador brasileiro de futebol.


Foto: Marcelo Fim / O Globo