A liberdade é um bem a ser preservado a
qualquer custo.
Esta frase singela resume a história contada
pelo filme Mustang, que recebeu o
sofrível título de Cinco graças no
Brasil. Trata-se de uma coprodução entre Turquia, França, Catar e Alemanha, indicado
para o Oscar de melhor filme estrangeiro, pela França. Perdeu para outra obra
prima, O filho de Saul.
Cinco
lindas meninas viviam tranquilamente numa cidade da Turquia, onde o filme foi
ambientado, e de repente tudo muda na vida delas. Ilayda Akdogan, que
interpreta Sonay; Tugba Sunguroglu, a Selma; Elit Iscan, que interpreta Ece;
Doga Zeynep Doguslu, que vive Nur; e a excelente Günes Sensoy, a caçula e mais
independente das irmãs, Lale, todas têm um desempenho espetacular, sob a direção
de Deniz Gamze Ergüven.
O que
mudou na vida delas foi uma brincadeira inocente com meninos, colegas de
escola, na praia, deturpada pela comunidade moralista e hipócrita onde vivem. A
partir daí, a liberdade delas começa a ser comprometida, até chegar ao ponto da
casa da avó, onde moram, tornar-se uma prisão, com grades em todas as janelas.
O objetivo da
avó e do tio das meninas é casá-las o mais breve possível, antes que percam a
virgindade. Segundo a caçula e narradora da história, Lale, a casa torna-se uma
“escola de preparação de esposas”, onde se ensina a cozinhar, costurar, e ser
obediente, é claro.
Nada
disso impede nelas a descoberta da sexualidade. Enquanto que, os adultos, têm
um comportamento que beira a insanidade.
A partir
da irmã mais velha, cada uma vai cumprindo seu destino, desde uma relativa
felicidade até uma verdadeira tragédia. A caçula não desiste, ignora a loucura
dos adultos e busca a liberdade a todo custo.
Em meu ponto de vista – afirmo isso
porque as cenas são discretas, apenas insinuando os fatos – em pelo menos dois
momentos Lale, a narradora, observa o tio entrando no quarto das irmãs,
deixando a impressão de que ele abusava sexualmente de uma das meninas, mas não
a ponto de tirar a virgindade dela. O tema é tratado em mais de um momento do
filme, deixando claro que os homens de lá sabem como fazê-lo, sem tirar das
meninas a garantia de um bom casamento. É o cúmulo da hipocrisia, de pessoas –
ou culturas – moralistas, fundamentalistas.
Por fim,
intrigou-me bastante o título original do filme. Já em casa, fui descobrir que
este é o nome (mustangue, em português) de uma raça de cavalos
norte-americanos, descendentes de animais espanhóis, aparentemente indomáveis,
que não se sujeitam ao confinamento, enfim, à perda da liberdade. Bela escolha
para um belíssimo filme!