terça-feira, 2 de abril de 2019

Anti-intelectualismo


Em sua coluna de hoje para a Folha de S.Paulo (2 abr 2019), Hélio Schwartsman afirma que “Jair Bolsonaro consegue a façanha de ficar mal com todas as partes”. Ele se refere à abertura de um escritório comercial em Jerusalém, em vez da mudança da embaixada para a cidade.
            O que desejo ressaltar é a maneira como o articulista conclui sua crônica sobre este tema:

“Das várias características do neopopulismo de direita que parece estar tomando conta do Ocidente, o anti-intelectualismo é a mais preocupante. A maior parte dos avanços socioeconômicos observados nos últimos 200 anos se deve ao acúmulo de conhecimento técnico, que passou a ser utilizado em políticas públicas. Pense em coisas como saneamento, programas de vacinação etc.
Ao desprezar o racionalismo e o saber de especialistas, a nova direita passa o rodo sobre o que deu certo ao longo da história e ainda abre flanco para criar novos problemas desnecessários, como fez Bolsonaro.”

            Há um outro fator que contribui para o que Schwartsman chama de anti-intelectualismo, não mencionado por ele. Trata-se do fundamentalismo religioso, que vem apoiando este “neopopulismo de direita”, sempre contrário ao pensamento científico. Um bom  exemplo disso é a volta do ensino do criacionismo nas escolas, em detrimento da Evolução das Espécies, com fatos bem estabelecidos pela Ciência.
            Não é mais novidade o tremendo poder da bancada religiosa no Congresso Nacional. Até mesmo a tal inoportuna e desastrada ameaça de mudança da Embaixada do Brasil para Jerusalém parece ter a ver com a influência dos evangélicos.
Fundamentalismo religioso não é coisa apenas de terroristas que destroem monumentos históricos de valor inestimável. Ao contrário, ele está presente em nosso dia-a-dia, nas redes sociais, na política, nas escolas, no modo de educar as crianças, sem contar as pregações em cultos religiosos.
            Definitivamente não somos mais um país laico, e temos muito a perder com isso, como ressalta Hélio Schwartsman em sua crônica de hoje.