quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um sonho guardião


          Na solidão da madrugada escura, o marido rolava na cama e gemia gemia gemia, atormentado por uma pedra no rim. A mulher, ao lado, dormia como uma outra pedra.
          Diante de um gemido quase grito, ela despertou.
– Você está sentindo alguma dor?
– Sim.
– Tomou o remédio?
– Tomei.
A mulher voltou a dormir, pois nada mais podia ser feito. Pela manhã, ao acordar de uma noite bem dormida, inteirou-se do estado de saúde do marido, preparou-lhe um café restaurador, e contou o sonho que tivera.
– Sonhei que ouvia seus gemidos, e perguntei se estava sentindo alguma dor. Você me respondeu que não. Então continuei dormindo.

Duas ideias me ocorrem diante desta realidade. A primeira, bastante óbvia, é de que se trata de um ótimo exemplo de sonho guardião do sono. Se o marido não sentia dor alguma, a mulher não precisava despertar.
A segunda, pouco mais elaborada, porém bastante evidente, e que pode incomodar as almas mais delicadas, diz respeito à natureza humana. Depois de A interpretação dos sonhos (1900), de Freud, não resta dúvida de que o sonho é manifestação do Inconsciente. E que o Inconsciente é o lugar dos instintos, a nossa natureza mais primitiva, mais verdadeira. E esta natureza reza: primeiro eu, depois o outro.

Acácia imperial


Com a chegada da Primavera, florescem as acácias, para alguns, as árvores mais lindas que há. A palavra é derivada do grego, Ákakos, passando pelo latim Acacius, com o significado de ingênuo, simples, sem malícia. (Kakós = mau, ruim; a = negação). 
O termo "acaciano" deriva do nome de um personagem de Eça de Queiroz, O Conselheiro Acácio, de O Primo Basílio, caracterizado por falas banais e ridículas. 
O vira-latas, editor deste Louco por Cachorros, considera-se um acaciano, e não se envergonha de continuar postando as notícias mais banais e desimportantes. Ele apenas se diverte.

Ref.: Deonísio da Silva, De onde vêm as palavras, Novo Século Editora, 2009.

Foto: A.Vianna, Brasília, out. 2012. (Do nosso quintal)