A caverna de Gorham, em
Gibraltar. JUAN MILLÁS
“Há cerca de 70.000 anos, um pequeno
grupo humano, de dois ou três indivíduos, pescou alguns mexilhões, se aproximou
de um abrigo rochoso, acendeu uma fogueira e, enquanto comia os moluscos,
começou a talhar pedras. As marcas daquela cena ficaram fossilizadas,
permitindo a reconstrução por cientistas que trabalham em dois sítios
arqueológicos do Rochedo de Gibraltar, as cavernas de Vanguard e Gorham. ...aqueles
humanos não eram sapiens como nós. Como neandertais,
pertenciam a uma espécie humana diversa. Seus últimos membros viveram neste
recanto do sul da Europa. ...a arqueologia revelou que não eram hominídeos
brutos e dotados de pouca razão, como foram descritos com muita frequência, mas
seres muito semelhantes a nós, porém ao mesmo tempo diferentes, e não apenas
anatomicamente.”
Assim tem início a reportagem de Guillermo Altares para Elpaís (6 set 2017), com o título Neandertais,
a extinção dos outros humanos,
repleta de perguntas instigantes: O
fim deles estava relacionado às mudanças climáticas? A tecnologia nos torna
superiores? E, se eles desapareceram, por que ainda estamos aqui?
A definição dos neandertais
como humanos vem da capacidade deles de linguagem (tinham a mesma mutação no gene FoxP2, associada nos
humanos à fala),
além do que enterravam
seus mortos e eram solidários com aqueles que não podiam se defender. Foi
encontrado em Gibraltar um desenho geométrico que indicaria a capacidade de conceber
um pensamento simbólico.
O nome neandertais vem do vale de
Neander, na Alemanha,
onde alguns dos primeiros vestígios foram descobertos. Essa espécie humana
viveu na Europa, do extremo sul do Mediterrâneo à Sibéria, e em algumas áreas
do Oriente Médio. A maioria dos cientistas acredita que evoluíram de uma
espécie anterior de hominídeos há cerca de 250.000 - 300.000 anos.
Seu misterioso desaparecimento, há
cerca de 40.000 anos (a equipe de Finlayson discorda e acredita que os
neandertais viveram em Gibraltar até 28.000 anos atrás), coincide com a chegada
de nossa espécie, os sapiens, à Europa vinda da África.
A espécie habitou a Europa por 200.000 anos. (Nossa
civilização tem apenas 10.000 anos; Altamira foi pintada há cerca de 15.000 e a
Pirâmide de Quéops foi construída há 4.500 anos.)
Os neandertais foram capazes de
sobreviver durante todo esse tempo adaptados a condições climáticas variadas e,
às vezes, extremamente frias, mas desapareceram em um espaço de tempo relativamente
curto. É provável que a deterioração climática e ecológica tenha influenciado a
extinção.
Os homens modernos, os sapiens que
chegavam da África, entraram em contato com neandertais há cerca de 70.000 anos
no Oriente Médio.
O sequenciamento do genoma neandertal revelou
que se tratam de duas espécies diferentes, porém houve hibridações entre
neandertais e sapiens no Oriente Médio há 70.000 anos. O resultado é que
os humanos não africanos têm entre 2% e 4% de genes neandertais.
Há 150.000 anos coexistiam quatro
espécies de humanos: sapiens, neandertais, floresiensis e erectus.
E Alteres conclui sua reportagem: “Agora,
as questões que os neandertais nos colocam são diferentes, mas igualmente
significativas. Por que uma espécie desaparece? O que nos transforma em
humanos? A tecnologia nos torna superiores? E, em tempos de mudanças
climáticas, é especialmente importante nos perguntarmos até que ponto é
possível sobreviver a uma transformação drástica no meio ambiente. Aqueles
outros humanos mudaram uma vez nossa forma de ver o mundo e está acontecendo de
novo. O lugar onde sobreviveram os últimos neandertais é agora uma área de
análise no solo úmido da caverna de Gorham, onde um grupo internacional de
arqueólogos escava pacientemente, enquanto outros cientistas examinam restos
milimétricos em um laboratório. Tentam entender quem foram esses outros humanos
e, portanto, quem somos nós.”
Causa espanto - o Louco não cansa de repetir - que com tantas descobertas referentes à Evolução das Espécies, ainda haja quem fale em Criacionismo.