A entrevista de Nuccio Ordine,
sociólogo e professor de Literatura Italiana na Universidade da Calábria, para
o Estadão no último domingo, 16 de fevereiro, dá o que pensar. (1)
A ideia central é a de que o Professor
Nuccio está desanimado, como devem estar desanimados todos os professores de
boa fé em nosso país, pelo rumo que vem tomando a Educação no Brasil. Ou que
não vem tomando, pois parece não haver rumo algum.
O
Ministério da Educação continua prestigioso, porém tão somente como trampolim
para o próximo cargo, seja ele eletivo ou não. As ações visando uma Educação de
melhor qualidade permanecem em segundo plano ou são completamente inexistentes.
Com a Saúde acontece a mesma coisa, mas as repercussões do mau atendimento à
população aparecem com maior frequência e amplitude na mídia, a gritaria é
maior. Com a Educação a resposta é o silêncio. Qualquer mudança na área só poderá ser aquilatada daqui a
30 anos!
As
estatísticas revelam que um número cada vez maior de pessoas concluem um curso
superior. Mas a que preço? O Professor Ordine alerta:
“A
ditadura do lucro e do utilitarismo infectou todos os aspectos da nossa vida,
chegando a contaminar esferas nas quais o dinheiro não deveria ter peso, como a
educação. Transformar escolas e universidades em empresas que devem produzir
unicamente diplomados para o mundo do trabalho é destruir o valor universal do
ensino. Os estudantes adquirem créditos e pagam débitos com a esperança de
conquistar uma profissão que possa dar a eles o máximo de riqueza. A escola e a
universidade, ao contrário, devem formar os heréticos capazes de rejeitar o
lugar-comum, de repelir a ideologia dominante de que a dignidade pode ser
medida com base no dinheiro que possuímos ou com base no poder que possamos
gerenciar. A felicidade, como nos recorda Montaigne, não consiste em possuir,
mas em saber viver. ... Sem a literatura, a filosofia, a música e a arte, nós
construiremos uma humanidade desumana, violenta, formada por indivíduos capazes
de pensar exclusivamente em interesses egoístas.”
O
fenômeno não abarca apenas as instituições privadas. Na universidade pública, a
relação entre alunos e professores em sala de aula mudou dramaticamente, e para
pior, nos últimos anos. Pude constatar pessoalmente a deterioração desta relação
ao perceber que os estudantes estavam muito mais ocupados com seus tablets e
iphones, sem qualquer disposição para ouvir, muito menos considerar o que o
professor tinha a dizer. Para minha surpresa, o Professor Ordine volta ao tema:
“As invenções mais revolucionárias da técnica (basta pensar no
iPhone ou na internet) também podem se transformar numa forma de escravidão. Os
estudantes que não conseguem desligar o celular nas aulas (ou as pessoas que
não o desligam num concerto, no cinema, no teatro, numa conferência)
comportam-se como drogados. O dispositivo tecnológico é como um fármaco: pode
curar e pode matar. Tudo depende da dose.”
Portanto,
a responsabilidade é de todos nós. Ninguém discute que Educar é a prioridade,
mas é preciso assumir a decisão política de fazê-lo. Isso, não tem sido feito.