Tivemos já uma
gatinha que se chamou Blimunda. Fugiu, para nossa tristeza.
Agora, a nova moradora, uma Shih Tzu
de 50 dias, torna a receber o nome de Blimunda.
– Qual é o nome
dela?
– Blimunda.
– Blimunda?!
– É.
O
diálogo se repete a cada nova apresentação. Causa estranheza o nome. Sinal que
os apresentados nunca leram o magistral Memorial do Convento, de José Saramago.
Isso sim, é uma pena.
Transcrevo
pequeno trecho:
“Quando Blimunda acorda, estende a mão para o
saquitel onde costuma guardar o pão, pendurado à cabeceira, e acha apenas o
lugar. Tacteia o chão, a enxerga, mete as mãos por baixo da travesseira, e
então ouve Baltazar dizer, Não procures mais, não encontrarás, e ela, cobrindo
os olhos com os punhos cerrados, implora, Dá-me o pão, Baltazar, dá-me o pão,
por alma de quem lá tenhas, Primeiro me terás de dizer que segredos são estes,
Não posso, gritou ela, e bruscamente tentou rolar para fora da enxerga, mas
Sete-Sóis deitou-lhe o braço são, prendeu-a pela cintura, ela debateu-se brava,
depois passou-lhe a perna direita por cima, e assim libertada a mão, quis
afastar-lhe os punhos dos olhos, mas ela tornou a gritar, espavorida, Não me
faças isso, e foi o grito tal que Baltazar a largou, assustado, quase
arrependido da violência, Eu não te quero fazer mal, só queria saber que
mistérios são, Dá-me o pão, e eu digo-te tudo, Juras, Para que serviriam juras
se não bastassem o sim e o não, Aí tens, come, e Baltazar tirou o taleigo de
dentro do alforge que lhe servia de travesseira.”
Pronto, quem ainda não sabe, fique
sabendo que Baltazar Sete-Sóis e Blimunda são marido e mulher, repartem o mesmo
leito, mas ainda perdura um grande segredo entre eles, por que Blimunda precisa
comer um naco de pão ao despertar, antes mesmo de abrir os olhos?
A linguagem é deliciosa, melhor não
pode haver!
Agora, eis o diálogo que eu gostava
de ouvir:
– Qual o nome
dela?
– Blimunda.
– Ah!, a mulher o
Memorial do Convento?
– Isso mesmo!
– Que lindinha!