sexta-feira, 24 de setembro de 2021
Outra vez, capa de livro
Em 22 de dezembro de 2014 (!) este blogueiro publicou:
Capa de livro
uma bela capa
a flor rubra no jardim
chamariz de abelhas
Vendem-se livros principalmente por causa do autor, do conteúdo, do gênero, do título, mas também pela capa. A imagem da capa funciona como um chamariz, palavra oriunda do latim clamare, chamar, convocar, daí chamariz (1813), coisa que chama, que atrai, segundo Antônio Geraldo da Cunha, em seu Dicionário etimológico da língua portuguesa (Lexicon, 2007).
https://loucoporcachorros.blogspot.com/2014/12/capa-de-livro.html A crônica é longa e pode ser lida no link acima.
Comento sempre, ao postar resenha de algum livro, além do conteúdo, a arte da capa. Gosto disso. Houaiss registra o verbete capista: profissional que cria capas de livros, discos etc. Eu acrescento: um artista que cria capas...
Por quatro ou cinco vezes estive diante da tarefa de compor uma capa de livro, mesmo não sendo um artista, e asseguro que foram experiências interessantíssimas!
Hoje, ao terminar a leitura de O ar que me falta, de Luiz Schwarcz, editado pela Companhia das letras, 2021, não posso deixar de registrar minha enorme admiração pela capa do livro, de autoria de Alceu Chiesorin Nunes, um artista de primeira.
Simplicidade maior não pode haver; não há qualquer imagem; apenas duas cores, vermelho e preto, no fundo levemente amarelado.
As palavras do título, em caixa alta, estão contidas em um retângulo de grossas linhas negras, que oprime, sufoca, faz faltar o ar. A palavra AR se destaca das demais pelo tamanho do tipo; para que o autor – o nome em vermelho no topo do retângulo – não corra o risco de morrer asfixiado, a perna da letra R escapa do retângulo, um respiro.
Abaixo, o longo e autoexplicativo subtítulo: HISTÓRIA DE UMA CURTA INFÂNCIA E DE UMA LONGA DEPRESSÃO, também em caixa alta.
O belo logotipo da editora, cujo editor é o próprio autor, ganha destaque na parte inferior da capa.
Belíssima capa!
Laerte ganha prêmio Juca Pato
“A cartunista Laerte Coutinho foi eleita a intelectual brasileira de 2021 pelo prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, resultado anunciado nesta quinta-feira (23). A paulistana havia sido indicada ao troféu ao lado de nomes como os do escritor Carlos Nejar, da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, da escritora Nélida Piñon e da repórter da Folha Patrícia Campos Mello.
Decana dos cartunistas da Ilustrada, a editoria de cultura da Folha, ela publica tiras diárias neste jornal há 30 anos.
Criado em 1962, o prêmio Juca Pato é entregue a autores que tenham publicado obras de sucesso nacional — em qualquer área do conhecimento — que contribuíram para o desenvolvimento do país e da democracia. O troféu premia anualmente um intelectual brasileiro que tenha se destacado.”
Sou fã!!!
Estúdio de Matisse em Collioure
O Estúdio de Matisse em Collioure, obra de Henri Matisse pintada na pequena cidade da costa mediterrânea da França, em 1905, vale a pena ser observada com cuidado e tempo, tantas são as informações nela contidas.
Logo ao primeiro olhar distinguimos dois ambientes, o interior e o externo. Como o próprio título do quadro indica, trata-se do estúdio do artista; destacam-se na parede lateral à esquerda de quem olha, duas telas, em frente uma escultura sobre alto tripé a representar um casal, a face posterior de outra tela mais inferiormente (estará pintada?), e por fim, no chão, pequena vasilha com água. A parede está coberta de cores fortes, puras, primárias e secundárias: vermelho, verde, amarelo, azul, violeta, uma das principais características do fauvismo, movimento encabeçado por Matisse a partir de 1905. O mesmo ocorre com a parede à direita, onde estão dependuradas duas telas e logo abaixo uma espécie de móvel; o tampo azul contém pratos e vasos, o maior deles com flores que parecem fazer parte da tela acima; numa espécie de prateleira está a palheta do pintor sobre um livro (?) ou caixa de guardar tintas (?); rente ao chão, vaso com pincéis e outra tela. No canto inferior direito do quadro vemos parte de uma cadeira, com pequena caixa contendo material de pintura (?) sobre o acento de palhinha. O chão, em frente à porta, sobre um tapete repousa mesinha com vasos e plantas em florescimento. No piso predomina o vermelho vivo e o azul escuro.
As duas folhas abertas da porta-janela ainda fazem parte do interior, porém já começam a revelar o que está fora: mostram o reflexo de céu, das palmeiras, do chão cor de areia, das construções na cidade. As partes mais inferiores de ambas as folhas deixam transparecer apenas as cores das paredes. Matisse não desperdiça espaço: procura captar o real em sua totalidade.
A varanda, contendo dois vasos de plantas e delimitada por delicada grade, é espaço de transição entre o interno e a paisagem exterior.
A partir daí, a cidade, o verde-mar, pequenos barcos espalhados pela areia (?), à esquerda pequena árvore sob a qual há mesas e cadeiras, será mesmo um navio o que se vê ao fundo?, o céu violeta, o reflexo nas nuvens da luz solar. A pintura é luminosa, fora e no interior do estúdio.
A janela aberta tornou-se tema recorrente na obra de Matisse.
Em tempos de pandemia, passo as manhãs em frente a uma janela – a tela de meu computador –, onde mantenho contato como o mundo exterior. Este mundo não é tão belo quanto aquele representado por Matisse; nele há fome, doença, morte, corrupção, desentendimento, muito ódio e pouco amor. A Arte me ajuda a suportá-lo.