Adolescência
ganha 5 anos: agora vai até os 24, e não só até os 19 anos de idade. É o que
informa reportagem de Katie Silver, da BBC News (19/01/2018).
De
fato, os jovens estão optando por estudar por um período de tempo mais longo; a
decisão de adiar o casamento e a maternidade ou paternidade é cada vez mais
frequente.
Pesquisadores australianos, em artigo
publicado esta semana na Lancet Child & Adolescent Health, afirmam que a
percepção das pessoas quando ao início da vida adulta está mudando, o que seria
importante para assegurar que leis que
dizem respeito a esses jovens continuem sendo asseguradas.Outros especialistas,
no entanto, dizem que postergar o fim da adolescência pode infantilizar os
jovens.
A duração da adolescência já foi
alterada antes, quando se concluiu que a puberdade iniciava antes dos 14 anos; caiu
gradualmente no mundo desenvolvido nas últimas décadas até os 10 anos. Em
países industrializados como o Reino Unido a idade média para a primeira
menstruação de uma garota caiu quatro anos nos últimos 150 anos.
A biologia é usada como argumento por
aqueles que defendem que a adolescência termina mais tarde, pois o corpo
continua a se desenvolver. “O cérebro continua se desenvolvendo depois dos 20
anos, trabalhando de maneira mais rápida e eficiente. E para muitos os dentes
do siso não nascem até que complete 25 anos.”
Susan Sawyer, diretora do Centro para
a Saúde do Adolescente do Hospital Royal Children's em Melbourne, na Austrália,
escreve: "Apesar de muitos privilégios legais da vida adulta começarem aos
18 anos, a adoção das responsabilidades e do papel de adulto geralmente
acontece mais tarde. Postergar o casamento, o momento de ter filhos e a
independência financeira significa "semidependência", o que
caracteriza que a adolescência foi estendida.”
No Brasil, surgiu a chamada
"geração canguru" (a permanência por cada vez mais tempo dos jovens
na casa dos pais), nome dado pelo IBGE em 2013 ao “fenômeno que engloba pessoas
de 25 a 34 anos e que vem crescendo no país”.
Sawyer afirma que esta mudança precisa
ser levada em consideração pelos políticos, para que as leis e benefícios
voltados a esse público sejam alterados. Russell Viner, presidente da
associação Royal College de pediatria e saúde infantil, diz que no Reino Unido
a idade média para um jovem sair de casa é 25 anos. Ele apoia a ideia de que a
adolescência seja estendida até os 24 anos, para que o governo possa “garantir
a provisão de serviços para crianças e adolescentes que precisam de atendimento
especial (seja por abandono ou outro motivo) e que têm necessidades especiais
em termos educacionais”.
Para Jan Macvarish, socióloga da
Universidade de Kent, há um perigo em estender o conceito de adolescência. "Crianças
mais velhas e jovens são moldados de maneira mais significativa pelas
expectativas da sociedade sobre eles com o seu intrínseco crescimento
biológico. Não há nada necessariamente infantil em passar o início dos seus 20
anos no ensino superior ou tendo experiências no mundo do trabalho. E não
deveríamos arriscar transformar o desejo deles por independência em uma
patologia.”
Trata-se
apenas do estabelecimento de um parâmetro teórico, portanto sem qualquer
importância na vida dos jovens, ou a mudança pode trazer sérias consequências psíquicas
e sociais? É esperar para ver.