sexta-feira, 13 de junho de 2014

Abertura da Copa das Copas


Quatro acontecimentos insólitos marcaram ontem a abertura da Copa do Mundo. Surpresas acontecem, é claro, porém a natureza dessas últimas me faz lembrar a Jangada de pedra, de José Saramago, quando depois de uma sucessão de fatos extraordinários a Península Ibérica acabou por se destacar do continente europeu e navegou mar a dentro.

Começamos com a ausência de abertura oficial da Copa. Nem o Presidente da FIFA nem a Presidente da República declararam abertos os jogos. Ao contrário, esconderam-se bem no fundo da plateia. Faltou apenas que viessem disfarçados, para não serem reconhecidos. Ou aquelas pombinhas brancas eram os disfarces? Não que a mudez deles tivesse incomodado; ao contrário, as falas sim, teriam sido perda de tempo, ansiosos que estávamos todos para o começo do jogo. Mas, de fato, os jogos não foram abertos, por medo das vaias. Gente frouxa.

O segundo acontecimento, este mais infausto que o primeiro, foi que o primeiro gol da Copa – algo sempre festejado por quem gosta de futebol e Copas do Mundo – foi contra. Nosso lateral direito estava fora de posição, fazendo não sei quê lá na frente; a bola cruzada para a área pelo croata passou por três defensores nossos, que não conseguiram desviá-la; passou entre as pernas de um adversário, que não fez o gol; e foi chocar-se no lateral esquerdo do Brasil, que vinha correndo mais estabanado que uma vaca brava. Restou-lhe esbugalhar os olhos, incrédulo pelo gol que havia marcado, contra. E entrou para a história das Copas.

O absurdo do terceiro acontecimento reside no fato de que, pela primeira vez na história do futebol, incluindo os jogos de várzea, há unanimidade quanto à marcação de um pênalti: ele não existiu! As explicações variam enormemente, vão desde a teoria conspiratória de que esta Copa está comprada, até a teoria compensatória, que o juiz estava apenas se redimindo de um pênalti não marcado contra o Brasil, na Copa anterior, em jogo contra a Holanda, desclassificando o escrete. E não podemos nos esquecer daqueles que acreditam piamente de que deus é brasileiro... Um deus ladrão, com certeza.
Na manhã seguinte, jornais do mundo todo estampam nas primeiras páginas a gatunagem brasileira: o Brasil ganhou roubado. Precisávamos disso? A seleção jogou melhor que a Croácia e mereceu vencer, mas não sabemos se venceria se o pênalti não fosse marcado, e não saberemos jamais. Não é a primeira vez que acontece gol roubado em Copas do Mundo; quem não se lembra da “mão de deus” argentina? Porém, unanimidade num pênalti, é a primeira vez.

Por último, embora tivesse ocorrido em primeiro lugar, não houve escolas de samba, com suas peladas mulatas colossais, desfilando na abertura da Copa! Por isso mesmo, há quem diga que não houve abertura.