terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Felicidade

 Imagem & microconto


A noite escura, no silêncio dos canais desertos, ela voltou feliz para casa!



Foto: autor desconhecido.

Eternidade

Imagem & microconto

 



 

A noite escura, no silêncio das ruas vazias, ela esperou, esperou... Ele não veio.

 

 

 

Foto: autor desconhecido.

Conversa de Internet

Terceira charge do dia 





André Dahmer

Satélite

 



Fim de tarde.

No céu plúmbeo

A Lua baça

Paira

Muito cosmograficamente

Satélite.

 

Desmetaforizada,

Desmistificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,

Não é agora o golfão de cismas,

O astro dos loucos e dos enamorados.

Mas tão-somente

Satélite.

 

Ah Lua deste fim de tarde,

Demissionária de atribuições românticas,

Sem show para as disponibilidades sentimentais!

 

Fatigado de mais-valia,

Gosto de ti assim:

Coisa em si,

– Satélite.

 

 

                        Manuel Bandeira

                        Estrela da tarde

                        Poesia completa e prosa

                        Ed. Nova Aguilar, 1990

Dor

Meus quadros favoritos

 

Eduardo Chicharro Agüera

Madri, Espanha, 1873 - 1949 

Data: 1912 (Ávila)

 

Mentir virou moda

Segunda charge do dia 


Laerte Coutinho

Troca-troca

Charge do dia 


Claudio de Oliveira para a Folha hoje

Agora já não eram precisas contradanças...

100 anos de José Saramago


 

“Agora já não eram precisas contradanças de quem vai dormir com quem, Joaquim Sassa abriu o sofá-cama ajudado por Pedro Orce, Joana Carda retirou-se discretamente, e José Anaiço ficou uns momentos ainda, sem jeito, fingindo que não era nada consigo, mas o coração batia-lhe dentro do peito como um rufo de alarme, ressoava na boca do estômago, fazia abalar todo o prédio até aos alicerces, embora esta tremura não se pareça nada com a outra, enfim disse, Boas noites até amanhã, e retirou-se, é bem certo que as palavras nunca estão à altura da grandeza dos momentos.”

 

            José Saramago

      A Jangada de Pedra

 

 

https://blimunda.josesaramago.org/contradancas/

 

Porquinho-da-índia

 


 

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

 

– O meu porquinho-da-índia foi a minha 

                                       [primeira namorada.



           

           Manuel Bandeira

           Libertinagem

           Poesia e prosa completa

           Ed. Nova Aguilar, 1990




Aprendi pouca coisa, quase nada, nessa vida tão curta. Pois foi no domingo passado, aos 75 anos, que ouvi pela primeira vez, na voz de minha mulher, este poema de Manuel Bandeira. Logo eu, que passei toda minha vida lendo Bandeira, interessado na relação dele com a morte, de como enfrentou a terrível tuberculose, e venceu com a ajuda da Poesia.

 

Hoje prefiro o humor e a ironia de Bandeira, tão bem expressos nesse poema. Mercêdes foi apresentada ao porquinho-da-índia ainda menina, estudante de escola pública no interior de Minas Gerais. Conheci Bandeira na escola pública no interior de São Paulo.

 

Como eram excelentes as escolas públicas de antigamente!