Ao comentar os
recentes ataques terroristas em Orlando e Nice, Hélio Schwartsman faz
observação interessante: “Em
ambos os casos, o perfil dos perpetradores não se encaixa bem no de pessoas que
se radicalizam aos poucos nas mesquitas e acabam sendo doutrinadas e treinadas
pelas organizações terroristas. Seus motivos para o ataque parecem acima de
tudo pessoais – e a conexão religiosa soa mais como pretexto conveniente do que
como causa primária.”
O articulista da Folha acrescenta que a
socióloga Liah Greenfeld, em artigo para o New
York Times, afirma que “casos como os citados, embora possam ser
considerados atos de terror, seriam mais bem descritos como ações de indivíduos
com sérios transtornos mentais. Lobos solitários tenderiam a ser pessoas com
histórico de depressão e desajustes sociais. Teriam fortes ímpetos suicidas.
Ideologias violentas, como o islã radical, seriam delírios
"prêt-à-porter" que os ajudariam a forjar um sentido para seu
desconforto existencial, convertendo o que seria um suicídio clássico em
assassinatos em massa.”
Sob
a ótica da Psicanálise, podemos acrescentar a ideia da psicose, como substrato
psíquico a explicar o comportamento errático desses indivíduos. Em geral são solitários,
de convívio social difícil, embora muitos deles pareçam aos vizinhos pessoas
absolutamente normais.
O psicótico não precisa
ser o que chamamos vulgarmente de “louco varrido”. No dizer de um psicanalista
conhecido meu, há os “esquizofrênicos de ambulatório”, que convivem conosco
diariamente e mal percebemos o transtorno mental deles. Por uma razão ou outra
– as ideologias radicais podem
constituir um gatilho, porém muitas vezes a origem é endógena –, desenvolvem um
surto psicótico. E surto é surto! Daí em diante tudo é possível, qualquer
explicação racional há de falhar.
Portanto, difícil prever,
difícil controlar.