Em poucos dias Gabriela fará 5 anos, mas desde já orgulha-se
muito deste assombroso feito, ao mostrar os cinco dedinhos da mão direita às
pessoas que perguntam pela idade dela no supermercado, onde fomos às compras na
última sexta-feira.
Ao sair do mercado fomos cercados, como de hábito,
por uma legião de vendedores avulsos, oferecendo vassouras, rodos, espanadores,
camarão graúdo, laranja pera e poncã, morango, abacaxi, coco, água de coco, pamonha, alho, marmitas prontas para o almoço, panos de prato, sacos de lixo,
paninhos bordados para enfeite de cozinha, cada um se virando como pode...
Descarregamos as compras e entramos no carro,
Gabriela no banco de trás, como manda a lei. Preparava-me para dar a partida
quando chegou mais um vendedor.
Antes que ele abrisse a boca, com indisfarçável
impaciência, rechacei-o:
– Não, muito obrigado!
Ao que Gabriela observou, de imediato:
– Ô vô, você nem deixou ele falar...
Permaneci mudo por algum tempo, sem saber o que
dizer. Dei uma desculpa qualquer e partimos.