O tema é momentoso, tanto que foi motivo da crônica de
Hélio Schwartsman na Folha de hoje (11/08/2017), com o espalhafatoso título
Epidemia mortal.
Trata-se
da gravíssima epidemia de
abuso de opioides nos Estados Unidos. Em 2015 o país registrou 52,4
mil óbitos por overdose, dos quais 33.090 tiveram como agente causador opioides
legais ou ilegais.
Os números assustam quando é feita a
comparação com mortes no trânsito (35 mil) e por armas de fogo (13,2 mil). A
estimativa para 2016 é de um aumento de 19%.
A atual epidemia tem início nos anos
90, quando os médicos americanos começaram a prescrever opioides (drogas
inteiramente sintéticas, o que as diferencia dos opiáceos) para reduzir todo
tipo de dor, o que foi um sucesso. Porém, a oxicodona e a hidrocodona não eram seguras
e geraram grande número de dependentes.
Interrompo
aqui a linha de pensamentos expressos na crônica de Schwartsman e passo a
relatar experiência pessoal que acabo de vivenciar, com reflexões que condizem
com o tema tratado pelo jornal. Diante de quadro de dor intensa, contínua,
incapacitante, causada por doença articular de quadril, foi-me prescrita a
oxicodona.
Santo
remédio!
Além de
quase que abolir a dor, a ingestão da droga à noite propiciou-me sono
reparador; mais que reparador, acordei com sensação de felicidade indescritível,
e relatei a experiência a familiares como tendo “acordado sorrindo”! Os sonhos
que tive durante esta primeira noite foram algo inédito para mim, sensações de
puro prazer, paz indizível, alegria inaudita, que perduraram até o despertar,
sorrindo.
Na
segunda noite de uso da oxicodona, repetiram-se estas sensações, a dor quase
que desapareceu, para minha mais completa perplexidade. Não sou usuário de
drogas ilícitas e portanto não posso comparar esta minha sensação com o uso de
heroína, cocaína ou qualquer outra droga, pois nunca as experimentei. Porém, a
comparação pareceu-me inevitável, e pode ser resumida com uma palavra informal: um barato!
Para
minha surpresa, na terceira noite não tive sonhos, tive pesadelos, que se
repetiram até o dia do procedimento cirúrgico, quando interrompi o uso da
droga. Não estou certo quanto a chamá-los de sonhos: mais pareciam alucinações ou
delírios. Melhor classificá-los como não-sonhos,
de efeito desagradável e perturbador ainda ao despertar.
Durante a
operação, foi utilizada a morfina; no pós-operatório imediato, acidentalmente,
fui acometido de intoxicação pelo uso excessivo de oxiconona (embora não tão excessivo assim, talvez
potencializado pela morfina), diante de dor intratável no membro operado.
A
experiência que procuro relatar aqui, embora fragmentada, foi por mim
confrontada – com espanto! – com a crônica
de hoje de Schwartsman, a Epidemia
mortal. Coincidência?
Coincidência
ou não, é preciso cuidado com o uso da oxicodona, alerta que deve servir aos
médicos e usuários. De minha parte, estou feliz por recuperar minha lucidez, a ponto de poder voltar a escrever neste blogue, embora com certa dificuldade,
confesso.