Tema
de preferência deste blog, a escrita (em particular a escrita terapêutica), é
motivo de crônica de Sérgio Rodrigues hoje, para a Folha. Ele cita alguns guias
práticos que podem ajudar, com a ressalva de que “nada podem fazer contra a
alfabetização precária.”
E
destaca o papel da leitura:
“E
saber ler tampouco basta. Quem não deixar o terreno da potência para ler de
fato, e muito, também não conseguirá passar de um nível básico de escrita.
...
Meses atrás, quando falei aqui do livro de Zinsser, um leitor deixou o seguinte
comentário: "É de uma pretensão sem tamanho, a vaidade elevada ao maior
grau, o sujeito se meter a querer ensinar os outros a escrever".
Muita
gente pensa que a escrita não pode ser ensinada, que saber escrever é uma
questão de talento, quem tem tem, quem não tem jamais terá. De fato, talento
literário é coisa rara mesmo. Também não se trata de correção gramatical e
ortográfica, “aspecto que será cada vez mais delegado à inteligência artificial”,
segundo Rodrigues.
Sérgio
Rodrigues vai ao ponto central dessa discussão:
“Estamos falando de
pensamento. Escrever com clareza e precisão, sem matar o leitor de confusão ou
tédio, é uma riqueza que deve ser distribuída de forma igualitária por qualquer
sociedade que se pretenda civilizada e justa.” (O
negrito é meu.)
Eis a questão: aprender a pensar! Se
o sujeito sabe pensar, é bem provável que ele escreva razoavelmente bem, ao
menos com clareza. O que tenho dito e repetido é que a escrita ajuda no
aprendizado do pensar, ao ordenar ideias, dando sentido à narrativa, quer se
trate de um ensaio ou de ficção. Nesse caso, os exercícios de pensar e de
escrever se confundem, se superpõem, se complementam. É, como tudo na vida, uma questão de educação.
Escrita, qualquer que seja, exige
edição. O texto precisa ser lido e relido várias vezes, escoimado do supérfluo,
das deselegâncias, das obscuridades, e isso dá trabalho. Se aquele que escreve
não deseja editar seu próprio texto, melhor nem escrever. Pedir a outrem que o
faça também não me parece adequado. (Uma revisão final, acompanhada de algum
juízo de valor, esta sim, pode e deve ser praticada.)
Afinal, reler o próprio texto
significa aprofundar o pensamento sobre ele mesmo. Sempre vale a pena.
Vamos escrever!