Autores dão dicas de como usar dias de isolamento para começar a escrever: este título do artigo de Fernanda Boldrin, para O Estado de S. Paulo (13 abr 2020), resume o assunto.
Escrever pode ajudar a vencer o isolamento. A frase do estudante de engenharia Victor de Oliveira Dias, que desejava começar a escrever em meio à quarentena, é interessantíssima: “Senti cansaço de ser passivo com as artes, de apenas absorver”.
“Se escrever é algo que você quer fazer, mas, por alguma razão, sempre tem uma desculpa para adiar, esta é uma oportunidade”, diz a poeta e escritora Angélica Freitas. Embora confinada, ela mantém seu ritmo de escrita: “Como eu não posso sair à rua ver pessoas, tenho observado o movimento da minha janela. Tento imaginar para onde vai quem passa por aqui.”
A escritora e crítica literária Noemi Jaffe afirma que, “para escrever, é preciso escrever”. “Não espere uma inspiração, porque ela só vem quando a gente senta para escrever. Não espere nada.” “Noemi vê na escrita um gesto de transformação, uma maneira de, com o mal-estar e a imprevisibilidade da situação, fazer palavras.” Este blogueiro dá a isso o nome de Escrita Terapêutica.
“Na caixinha de ferramentas de Noemi e de Angélica, estão também os desafios verbais. Pode-se tentar, por exemplo, escrever um texto sobre amor sem usar a palavra “amor”, ou um texto sem usar nenhuma vez a letra “e”. Explorar uma história já conhecida pela perspectiva de outra personagem ou, ainda, escrever um poema para os cinco objetos mais próximos de si.” Pessoalmente, não gosto desse exercício, em que o tutor sugere o tema e o discípulo obedece. Isso significa abandonar a criatividade de quem começa a escrever, penso que funciona como fator inibidor dessa criatividade. Mas reconheço que pode funcionar para muita gente.
O artigo de Fernanda Boldrin traz ainda dicas para escrever:
1 Concentração: procure um ambiente onde você possa ter um tempo sozinho.
2 Rotina: comprometa-se a escrever no mesmo horário, ainda que por um curto intervalo de tempo.
3 Caderno: tenha sempre um caderno por perto. Além de ajudar a não perder ideias pelo caminho, começar e terminar o caderno funcionam como incentivos à escrita.
4 Observação: olhe com atenção as coisas acontecendo ao seu redor, dentro ou fora de casa.
Minha dica é começar pelo microconto, que pode conter, por exemplo, até 140 toques, como manda o Twitter; trata-se de ótimo exercício para estimular a criatividade, aprender a ter intimidade com as palavras, desenvolver o poder de síntese, abusar do bom humor.
Há cursos online para aperfeiçoar a escrita, o que pode ser interessante para quem acredita no modelo.
O artigo só não fala de algo fundamental para quem deseja escrever: ler! Ler ler ler, ler muito, até que um dia, cansado de “apenas absorver”, o sujeito sente o desejo de produzir algo original, seu, registrar o que lhe passa pela cabeça, emitir opinião sobre qualquer coisa, uma ideia, nova ou velha, não importa, e quando bate esta vontade, então o “caderno por perto” há de ajudar.
Este blogueiro está sempre voltando ao tema. Gostaria muito que minhas filhas escrevessem. Água mole em pedra dura...