O
Sistema Nacional de Saúde britânico revela que a automutilação entre crianças e
adolescentes cresceu mais de 70% nos últimos dois anos. Desde 2012, são mais de
2.700 pessoas com idades entre 10 e 14 anos, tratadas em hospitais depois de
terem infringido algum tipo de ferimento a si mesmas. Na faixa etária de 15 a
19 anos, o aumento durante o mesmo período foi de 23%. (1)
Os
pesquisadores aventam a hipótese de que o “mundo online” em que estas crianças
e adolescentes vivem atualmente pode estar contribuindo para o cenário. A pressão entre
adolescentes relacionada ao bullying,
ao sexo, à escola e ao trabalho sempre existiu, mas, na esfera online,
é algo relativamente novo e ainda desconhecido. A pressão das redes sociais
sobre o comportamento dos jovens é permanente, diminuindo ou até mesmo abolindo
a privacidade deles.
Tanto quando pude me informar, o estudo em questão não
faz referência ao porquê escolher a automutilação como forma de enfrentar as
dificuldades impostas pelo mundo contemporâneo, em particular ao tal “mundo
online”. Penso que a palavra chave para o problema é o enfrentamento da dor
psíquica.
Em
primeiro lugar surge a dificuldade, ou até mesmo a absoluta impossibilidade de
reconhecer a dor psíquica. E se não pode ser reconhecida como tal, não se pode lidar
com ela. O sujeito então a desloca para o corpo, transforma-a em dor física,
para então poder lidar com ela. Dor física todos conhecemos, desde a mais tenra
idade – talvez desde o momento do parto.
Podemos
supor, por mais incrível que isso possa parecer, que quando a adolescente
enterra a tesourinha na face interna da raiz da coxa, a dor que ela sente é
menos intensa que a dor causada pela tormenta psíquica daquele momento. E ela
sofre sozinha, apartada de familiares, amigos, colegas, porque ninguém pode
socorrê-la diante da dor psíquica.
Terminado
o procedimento de automutilação, surge momentâneo alívio. Podemos pensar então
nas escolhas que as pessoas adultas fazem para aliviar a dor psíquica, além da
automutilação. O álcool e as drogas ditas ilícitas são as escolhas mais
frequentes. Há quem afirme categoricamente que a depressão também é uma
escolha.
E ainda nem chegamos ao
masoquismo...