Ontem, durante a solenidade de convocação da Seleção Brasileira de Futebol
para a Copa 2014, após anunciados os nomes dos 23 jogadores, teve início a
coletiva de imprensa, com jornalistas do mundo inteiro. Lá pelas tantas, uma
correspondente de esportes da França fez a seguinte pergunta ao técnico
Felipão:
– Os franceses desejam saber por que
vocês brasileiros dão tanta importância a este momento de convocação da
seleção?
A resposta não importa, a pergunta é
muito boa! (Os psicanalistas adoram repetir a frase: “O que estraga uma
pergunta é a resposta...”)
Para os estrangeiros, devem ser
mesmo incompreensíveis certas atitudes nossas referentes ao futebol, em
especial à seleção.
Antes de mais nada, confesso meu
amor pelo futebol desde os tempos de menino. Dos 8 aos 16 anos, jogava bola
diariamente; aos domingos, de manhã e à tarde. E não jogava mal; se a técnica
não era das melhores, o empenho e força de vontade compensavam. Assistir aos
jogos do time local contra os grandes Palmeiras, Corinthians, São Paulo, levado
pelo pai e em companhia do irmão, aqueles eram momentos mágicos e inesquecíveis
de pura felicidade.
Em 58, na Suécia, ouvi os jogos da
copa pelo rádio, e começou ali a paixão pelo escrete. (Para quem não sabe, a
palavra “escrete” vem do inglês scratch,
que significa seleção. A forma inglesa era muito usada nos idos de 50, e de lá
para cá nunca mais a ouvi...)
Depois vieram as copas de 62, 66, a
espetacular copa de 70, no México, e a seleção colecionando títulos. Não raro,
encontramos quem saiba de cor a escalação das seleções de todas as copas! Da
mesma forma que determinadas jogadas são relembradas com verdadeira devoção,
especialmente os gols “não marcados” por Pelé.
E como somos todos técnicos de
futebol, temos as nossas preferências na hora de escalar o time. Daí, senhora
repórter, a tremenda expectativa do momento da convocação! Isso para não falar
dos milhares de profissionais, os comentaristas de futebol, espalhados por todo
o país, e que ganham a vida convictos de que “futebol é coisa séria...”. O mais
famoso deles foi Nelson Rodrigues, autor de frases e expressões memoráveis,
como “a pátria em chuteiras”, referindo-se ao envolvimento nacional com o
futebol.
Desnecessário dizer que todos
preferiríamos assistir à Copa num Brasil melhor do que este que temos hoje,
mais educado e menos violento, para dizer o mínimo, mas enquanto isso não é
possível, ficamos com a simples, mas verdadeira, resposta do Felipão à pergunta
da tal repórter:
– Ora, porque é a Seleção!