Após ler O
sorriso do lagarto, A casa dos budas ditosos, O conselheiro come, Miséria e
grandeza do amor de Benedita, de João Ubaldo Ribeiro, além de acompanhar suas
crônicas nos jornais de domingo, confesso que não havia me tornado fã do baiano
de Itaparica. A contrário, desgostava mesmo dele.
Logo após sua morte, li em algum
lugar a manchete que o chamava de GÊNIO. Gênio?, pensei. Ou o articulista
estava tomado pela emoção da perda recente, ou era amigo pessoal do baiano, ou
sei lá o quê... ou eu estava completamente enganado quanto ao valor literário
do homem. O mesmo artigo dizia que a obra prima do
João Ubaldo
era o Sargento Getúlio, publicado em 1971, que eu não havia lido, embora o
livro dormisse em minha biblioteca há mais de vinte anos. Resolvi lê-lo.
Estou assombrado com o livro! É, de
fato uma obra prima. (E o autor deste blog confessa aqui sua ignorância – ou se
trata de arrogância? –, por não ter lido o livro vinte ou trinta anos atrás...)
A trama é simples: Getúlio, um
sargento, tem que fazer uma entrega. Tem que entregar uma coisa; aliás, “o
coisa”. No trajeto, de Paulo Afonso a Aracaju, vão ocorrendo as peripécias. O
final é quase previsível, nada demais. Então o que sobra?
A forma! Coisa de gênio.
Há poucos diálogos, quase tudo é a
narrativa feita por Getúlio, monólogo de humor finíssimo, às vezes de uma violência
e crueldade extraordinárias. O monólogo vai se tornando cada vez mais interior,
até desaguar num fluxo de consciência delirante.
Nessas croniquetas que costumo
apresentar aqui, gosto de transcrever pequenos trechos dos livros que comento,
a título de ilustração. Desta vez não o faço, por uma razão bem simples: seria
preciso transcrever o livro inteiro.
Aos pouquíssimos leitores desse
blog, se ainda não leram Sargento Getúlio, façam-no com urgência. Não se pode
morrer sem ler este livro!