Da
Correspondência de Suzete
Querida Suzete,
foi com tremendo espanto,
mas também com alegria e entusiasmo, que recebi sua carta. Seremos os últimos a
escrever cartas neste planeta? Penso que sim; agora, escrever para informar que
está viva, isso é extraordinário!
(Outro dia assisti um filme interessante, Demolição, no qual o protagonista
escrevia cartas. Meu amigo dono do blog Louco por cachorros também assistiu,
postou boa crítica, ressaltou o que ele chama de Escrita Criativa, vale a pena
ler.)
Quantas peripécias por que tem passado, Suzete! São “as
voltas que o mundo dão”, como diz nosso Rosa. Mas na essência, você tem razão:
é muito bom ganhar a liberdade. Você não se deixou entregar, como fez Desdêmona.
O ciúme é mesmo um monstro verde.
Pobre Afonso; mesmo sem conhecê-lo pessoalmente eu
gostava dele, talvez por compartilhar o amor à língua portuguesa. A última
frase do Folhetim, dita por ele, “É tarde demais”, copiou-a do Otelo, não sei
quantas leitores deram-se conta disso. Foi um fecho e tanto, Suzete, embora
trágico.
O melhor de tudo é que você está viva!
Você tem razão, o Folhetim fez mesmo enorme sucesso. Os
leitores gostavam muito de você, reclamaram sua morte, disseram que uma
“personagem” dessa não poderia morrer. Veja você, virou personagem...
Certamente admiravam sua disposição para o trabalho e para a autoeducação
através da Literatura, na leitura e na escrita.
Educação é tudo na vida, Suzete. Você conhece de nome o
poeta Paulo Sergio Viana (que também tem um blog), irmão do nosso amigo autor
do Louco por cachorros. Gosto de brincar com ele, que detesta ostras, e que eu
tanto aprecio; digo sempre, Tudo É Uma Questão De Educação! Ele fica bravo,
porque não admite que se comam ostras. Escargô então, que eu adoro, nem pensar,
ele quase surta...
Suzete, sei que demorei para responder sua carta, mas não
foi por desamor. Apenas esperei que a boa
nova – sua ressureição – decantasse, dei-me tempo para assimilar a notícia,
respirar fundo, e então voltar a corresponder-me com você, com muita alegria.
Antes de concluir esta cartinha, e para não perder o
hábito, quero dizer do magnífico livro que estou lendo (400 páginas!; havia
prometido a mim mesmo que, com a idade que tenho, jamais leria livro de mais de
200 páginas), Inferno Provisório, de Luiz Ruffato (Companhia das Letras, 2016).
Trata-se da edição definitiva que engloba 5 volumes que começaram a ser
escritos em 1998. Quando terminar, comento com mais detalhes, mas vou
adiantando que se trata de uma obra prima. (Conheço até um pós-graduando que
está escrevendo sua tese sobre a obra.)
No mais, tudo bem, continuo trabalhando muito, lendo,
escrevendo alguma coisa, divertindo-me com o blog do André. Fico esperando,
aflito, sua resposta.
Do sempre
seu
melhor
amigo,
Alberto.
São Paulo, 10 de janeiro
de 2017