quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Prognóstico


Sem entender, saiu da consulta apreensivo. O médico, um erudito, anunciou o prognóstico:
– A espada de Dâmocles permanece suspensa.

a predileta



néctar predileto
do beija-flor atrevido
feita pro seu bico


Foto: A.Vianna, jan 2017, jardim.


Cura em Psicanálise

           
            Posso afirmar que minha experiência como cirurgião auxiliou-me em pelo menos um aspecto, o de discernir entre o conceito de cura em Psicanálise e em Cirurgia. Uma vesícula doente, eu a retirava e pronto, o paciente estava curado. Um apêndice supurado, ameaça real de peritonite e morte, podia ser removido através de pequena incisão: paciente curado.
            Nada disso poderia ocorrer em Psicanálise.
            É disso que trata a crônica de hoje de Francisco Daudt na Folha de S. Paulo. Porém, ele chama a atenção para o exagero dos psicanalistas atuais em desprezarem completamente a possibilidade de cura de seus pacientes:
“grande parte dos psicanalistas atuais desdenham da cura, como se ela fosse uma coisa menor e desprezível. Um lacaniano conceituado com formação na França me contou que ouviu uma de suas colegas de linha teórica afirmar num congresso: "A finalidade terapêutica corrompe a psicanálise".
            Daudt descreve com propriedade sobre o significado da cura:

“Vamos pensar no conceito de cura: curar é eliminar o mal, mas também é cuidar, é atenuar o sofrimento, é conduzir para o bem. O curador de menores faz isso, ele cuida e orienta, não extirpa doença. Curar é, portanto, tratar, é a finalidade terapêutica, a tal que estava amaldiçoada pela psicanalista lacaniana. Agora, um psicanalista não pode buscar uma cura parecida com a que o cirurgião faz quando retira um apêndice inflamado. Não, nós lidamos com tecido nobre: a memória e o desejo.”

            Prossegue Daudt, resumindo o que se espera do processo psicanalítico em termos de cura:

“A cura psicanalítica consiste em desentranhar a memória e o desejo do cliente das invasões bárbaras que sua vida sofreu como resultado de uma criação incompetente, aquilo a que Freud deu o nome de Complexo de Édipo. Um cuidadoso e árduo trabalho – que parece arqueologia – vai tornando consciente para ele o que é seu, o que lhe pertence, e o que é problema de quem o criou, e que ele até então carregava como seu, de modo a que ele se torne dono de sua vida e de seu destino.”

            A ideia de que o analisando, ao “término” de sua análise (não há espaço aqui para uma discussão aprofundada sobre o que significa término de uma análise) possa transformar-se em analista de si mesmo, e portanto mais bem aparelhado para enfrentar as frustrações do cotidiano, também é expressa por Daudt.
            Enfim, a Psicanálise sempre em foco!



Geza Farago

Meus quadros favoritos


Geza Farago

Aldravia n. 43



árvores
igreja
névoa
como
num
sonho



Foto: Christof Stache / AFP (Estadão): Vila bávara ao sul da Alemanha