Se tenho medo de morrer? Não tenho.
Há poucos anos vivi a experiência que chamo de quase morte. Descrevo-a aqui,
para que o leitor possa compreender o porquê não tenho medo de morrer. Eu
estava só, não importam aqui as razões. Certa noite apresentei febre alta, súbita
manifestação de infecção urinária grave. Como não pudesse permanecer de pé,
deitei-me. Não sei se dormi, mas com certeza delirei pela febre. Cometi o grave
erro de não ingerir líquidos durante a noite. Quando a empregada chegou
encontrou-me prostrado na cama. Percebi que o volume de urina havia diminuído
consideravelmente pela manhã, o que agravou-se durante o dia. Praticamente,
parei de urinar. O diagnóstico era fácil: insuficiência renal aguda. Iniciei
com antibióticos, o que melhorou rapidamente o quadro infeccioso, porém a
diurese não voltou ao normal. Comecei a apresentar intensas câimbras nas
pernas, e notei arritmia cardíaca com taquicardia, algo parecido com fibrilação
auricular, assim eu pensava. No quinto dia do processo resolvi chamar o médico,
meu amigo pessoal, em minha casa. Ele atendeu-me prontamente, solicitou alguns
exames de sangue, e assustou-se com os níveis sanguíneos do potássio.: 7,8
miliequivalentes por litro. Valores acima de 5 mEq/l são considerados fatores
de alto risco para uma arritmia grave, com parada cardíaca. Meu amigo pediu-me
gentilmente que me internasse em um hospital, insistiu comigo, apelou para a
ajuda de amigos comuns, alguns chegaram a vir à minha casa. Recusei a
internação porque não queria continuar vivendo. Simplesmente isso. Minhas
filhas não suportaram a situação e me deixaram só. Foram 48 horas de espera, de
espera pela morte. As câimbras pioraram muito, mal conseguia me levantar da
cama. Passei duas noites em claro, observando o ritmo cardíaco, esperando pela
parada cardíaca. Encontrava-me em paz.
Depois destas 48 horas comecei a
melhorar. Voltei a urinar, uma urina clara como água, mas abundante. Sabia que
era a fase poliúrica da insuficiência renal. Alimentava-me exclusivamente de
sopa, feita por minha empregada. Quando meu amigo voltou a me visitar,
encontrou-me vivo, Isso é um milagre!, É impossível!
Melhorei progressivamente, algumas
semanas depois realizei novos exames de sangue, que vieram praticamente
normais, com uma leve alteração da função renal.
Foi assim que vivi a experiência de
quase morte.
Estiveram ao meu lado, com relativa
consciência do que estava ocorrendo, meus três pequenos cães, Camões, Lola e
Nina Simone.
Está ficando dificil para mim continuar a leitura deste diário...
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