Em sua crítica para El País (1 fev 18), Cecilia
Ballesteros chama a Forma da Água,
filme do premiado mexicano Guillermo del Toro, de “A Bela e a Fera sem bela e
sem fera”. Porém a crítica dela é elogiosa: “uma das histórias de amor mais
emocionantes”.
Del
Toro é o diretor do espetacular O Labirinto
do Fauno e, portanto, a expectativa é que este novo filme correspondesse em
criatividade, roteiro, fotografia, etc.
A Forma da Água combina espionagem,
política, guerra fria, ficção científica, comédia, romantismo (meloso demais),
conto de fadas, referências interessantes a filmes antigos, belo visual dos
anos 50, incluindo lindos cadilacs, e, ao final, pude até identificar um longo monólogo
à moda de Tarantino.
Elisa
(Sally Hawkins), a protagonista muda, não é bela, como afirmou Ballesteros,
porém seu desempenho é magnífico, um dos pontos altos do filme.
Meu
grande interesse em ver A Forma deveu-se
ao fato de que assisti O Monstro da Lagoa
Negra, filme de 1954, quando tinha mais ou menos 11 anos de idade,
acompanhado de meus tios Omair e Ruth, no Cine Urânio, em Guaratinguetá.
A experiência foi inesquecível!
Primeiro, porque eu não tinha idade (nem tamanho) para entrar naquele tipo de
filme, no mínimo proibido para menores de 14 anos. Meu tio deu um jeito no
homem (verdadeira Autoridade, para um menino de 11 anos) que recebia os
bilhetes e entrei, sabe deus como. Segundo, porque estava cagando de medo e não
podia confessar meu pavor. Me fingi de homenzinho e enfrentei a fera.
O Monstro era de fato um monstro, metade
homem metade peixe, vivendo nos rios da Amazônia (também encontrado por expedicionários
norte-americanos, como em A Forma), horripilante
fantasmagórico horroroso, ainda mais que em preto-e-branco, e que foi se
revelando aos poucos com o desenrolar da história (e não logo na primeira cena,
como em A Forma), criando a
expectativa característica dos filmes de terror.
Bem, não me lembro de mais nada, se
havia uma bela ou não, do fim que levou o monstro, eu só queria sair daquele
cinema e voltar para casa. Acho que não dormi direito aquela noite.
Para terminar, interessante comparar
os títulos de ambos os filmes: no antigo, destaca-se a palavra monstro, a criar desde logo o clima de
terror; no atual, a palavra forma, indefinida,
fria, amorfa mesmo, livrando a “criatura” de qualquer conotação demoníaca, para
manter o clima romântico-piedoso ao longo de todo o roteiro. Mesmo assim, a certa
altura, a tal Forma come um gato, talvez morta de fome.
Vale a pena conferir, especialmente
se o leitor também viu o Monstro da Lagoa Negra...
Em tempo, a trilha sonora de A Forma é impecável!