Baltasar Gracián
Em ótima crônica intitulada Quem precisa de sabedoria instantânea(6 jun 2018, em O Estado de S. Paulo), Leandro Karnal escreve sobre a obra de Baltasar Gracián y Morales (1601-1658), jesuíta de origem modesta, cuja obra mais divulgada chamou-se Oráculo Manual e Arte de Prudência, publicada em 1647.
Informa Karnal: “A estrutura da redação é clara: aforismos sobre temas variados em linguagem bastante direta, muito distante da futura forma do El Criticón. São 300 máximas curtas, parágrafos rápidos, fácil leitura e aplicação imediata: eis a fórmula do sucesso do livro publicado pelo jesuíta sob pseudônimo. Era uma sabedoria profana, pouco mística e decididamente pessimista.”
Eis alguns exemplos:
1 Nunca se sobressair ao chefe especialmente no campo do talento (7);
2 relacione-se com pessoas que tenham algo a ensinar (11);
3 não crie expectativas muito altas, pois “a realidade não se compara à imaginação” (19);
4 saber esperar é importante, pois como diz um ditado “eu e o tempo podemos enfrentar quaisquer outros dois” (55);
5 saiba dizer não aos outros deixando um vislumbre de esperança para amenizar o desapontamento (70);
6 saiba dosar as brincadeiras porque tudo que é excessivo perde o valor, é cansativo e desgasta (76);
7 os cautelosos sabem quando aposentar um cavalo de corrida sem esperar que ele sofra uma queda em plena competição (110);
8 não ser sempre do contra para não parecer tolo e irritante (125);
9 sem mentir, não revelar toda a verdade em qualquer circunstância ou a qualquer pessoa (181);
10 no Céu tudo é alegria, no Inferno tudo é tristeza, na Terra (que está no meio) existem ambas as coisas (211);
11 nunca romper definitivamente pois poucas pessoas são capazes de praticar o bem e quase todas são capazes de praticar o mal (257).
Já que os conselhos de tão alta sabedoria permanecem mais atuais do que nunca, será que devemos concluir que pouco ou nada mudou a Humanidade?