Paulo Sergio Viana
“O poeta é um fingidor”, afirmou Fernando Pessoa, num rasgo de sinceridade incomum entre poetas. Traduzindo em português barato, a frase nos ensina que não se deve ler poesia ao pé-da-letra. Nem acreditar em tudo que o poeta – este ser raro ímpar especial privilegiado –, escreve.
Junto aqui três poemas de três grandes poetas, que falam da sombra, cada qual a seu modo, naturalmente. Porém, posso notar um ponto de semelhança entre eles. O primeiro reduz a sombra a algo impessoal, que não pertence nem ao próprio corpo que, iluminado, gerou a sombra: ele não “reconhece a própria sombra”, ela não lhe pertence.
O segundo pede que o chão não guarde a própria sombra, que ele chama de inútil. O homem apenas sorri... e passa, sem deixar lembrança, ou sombra.
O terceiro aconselha que sigamos nosso destino (que passemos, como disse o segundo poeta), que “o resto é sombra”. Em belo recurso poético, ele afirma que “o resto é a sombra de árvores alheias.” Ao afirmar que a sombra vem de árvores alheias, ele retorna à imagem do primeiro poeta, que fala da impessoalidade das sombras.
De que, em verdade, falam estes poetas? Há neles uma certa melancolia, e a imagem da sombra lhes é útil para exprimi-la. A sombra é fugaz como a própria vida e assim o poeta vê a vida.
Mas não se esqueçam, o poeta é um fingidor...