Confesso, logo de saída, minha pontinha de inveja
diante dos dois alunos que incluíram a receita de miojo e o hino do Palmeiras
em suas redações para o Enem. É muita liberdade de expressão, se não for
picaretagem.
Para
que o leitor não pense que estou fazendo gênero, quero adiantar que em meu
livro 47 cenas de um romance familiar,
num dos últimos capítulos intitulado Doce
gratidão, acrescentei a receita da deliciosa torta de maçãs,
originariamente preparada por minha mãe, e mais recentemente aperfeiçoada por
minha mulher. E estou certo de que não fui o primeiro nem serei o último a
lançar mão deste expediente literário.
Daí
a ideia de apresentar aos candidatos do Enem algumas sugestões para que sejam
incluídas em suas próximas redações.
Sou fascinado pelos nomes de cavalos de
corrida! Que tal acrescentar a seguinte lista:
Black
Caviar, Very Rafaela, Sabor a Triunfo, Dance Brightly, Sally Mash, Undostais,
Dinâmica do Park, Gota D’Água, Red Polka Dots, Energia Eros, Giant`s Steps, Beduino
do Brasil, Nansoulk, Reizinho, Sal Grosso, Gaja Barbaresco, Klinsmann, Native
Pioneer, Dirty Dancer, Silent Times.
Que
tal uma simples lista de compras de supermercado?
Sal
grosso e refinado, iogurte, batatas (das grandes), cebola roxa e branca, óleo
canola, azeite (para cozinhar e para salada), açúcar, pimentão amarelo e
vermelho, sabão em pó, vinagre, alface (crespa e lisa), couve, agrião, milho
verde, beterraba, maçã, abacate, manga, pera, uva sem caroço, mamão papaia,
melancia.
Ou
diferentes marcas de tênis:
Mizuno,
Adidas, Puma, AWK, Fila, UFC, Asics, Global, Converse, Open, New balance,
Herchcovitch, Quiz 38, Sense, Nike, OLK, Sneaker, Lacoste, 4 Light, Columbia,
Olympikus, Timberland, Pony, Reebock, Vibe, DVS, Adio, Plasma, DC Shoes.
Penso
que uma lista de palavras de origem árabe começadas por “al” pode impressionar
deverasmente a banca de examinadores:
Alface,
alfazema, almofariz, almofada, alpiste, alfombra, alcatifa, alforje, alforria,
alfarroba, alfavaca, alfinete, almeirão, almenara, almíscar, almocreve,
almoeda, almôndega, almoqueire, almocela, almofaça, almofada, almofre,
almogama.
Uma
sequência aleatória de máximas, provérbios, anexins, ditados populares, e afins
pode ser bastante interessante, à moda de Sancho Pança:
Falar
é prata, calar é ouro, Tantas vezes vai o pote à fonte que um dia ele se
quebra, Por fora bela viola, por dentro pão bolorento, Mais vale um pássaro na
mão que dois voando, Boa romaria faz quem em sua casa fica em paz, É melhor a inimizade
do sábio que a amizade do tolo, O gênio faz o que deve e o talento o que pode,
Gosto não se discute, Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Lá
pelas tantas o candidato também pode sapecar uma assertiva desconcertante,
assim mesmo sem mais nem menos, para dar um susto no examinador sonolento:
–
Quem nasce em Madagascar é malgaxe ou madagascarense.
– O
Brasil nunca levou o Ensino à sério.
– O
único final feliz para uma história de amor é um acidente (título de romance de
J. P. Cuenca).
– A
Primavera é a estação das flores, o Verão é tempo de calor, o Inverno de frio,
e o Outono ninguém sabe.
– Você
não gosta de mim mas sua filha gosta (letra do Chico).
– Ovo
de lobisomem não tem gema (verso de Manoel de Barros).
A lista destes artifícios literários é
interminável. Ao concluir esta crônica, percebo que apenas desejava poder usar
todas estas possibilidades aparentemente absurdas de uma forma minimamente criativa.
O Enem tem se revelado até hoje uma fonte inesgotável de trapalhadas, e
aproveito-me dele para incluir meu próprio besteirol. O leitor que me julgue.