Na coluna de ontem em seu blog, Natureza
Humana: Força da Justiça, Francisco Daudt chama a atenção para um aspecto interessante, que pode ser observado
nas chamadas manifestações de rua.
Vejamos como ele
introduz o tema:
“Como psicanalista, sou um advogado de defesa do cliente que me
contrata. Ele chega pagando pena, prisioneiro por décadas de uma culpa que não
está clara – sua neurose –, e pior, achando-se mais culpado ainda por tê-la.
Quero ver os autos desse processo que o condenou, mas eles não estão on-line,
infelizmente. A coisa é tão injusta que se faz necessário um trabalho
detetivesco de arqueólogo para decifrá-lo. Sim, porque ele está codificado em
sintomas e sonhos, ele está inconsciente.
A beleza da coisa reside em que, à medida que vamos jogando luz na
história, ela se revela injusta com o neurótico: foi resultado de
incompetências – nunca encontrei história de má intenção – de sua criação
carregadas pela vida afora, o famoso Complexo de Édipo. Exposta a injustiça,
entra então a força da justiça: a indignação e o inconformismo, a vontade de
corrigir o erro.”
Daudt passa a enumerar
sentimentos desencadeados pela injustiça, como raiva, desejo de vingança (que
pode chegar até ao suicídio, para deixar culpados os pais), inveja,
ressentimento, ciúme. E conclui sua crônica destacando o papel da Psicanálise
frente à injustiça:
“Repare em você como a avaliação de justiça/injustiça funciona quase que
o tempo todo, aplicada a inúmeras situações.
A psicanálise conta com essa premissa: o Complexo de Édipo é injusto,
vamos corrigi-lo. A esperança de cura, em psicanálise, reside na força da
justiça. A esperança de cura das doenças institucionais do Brasil reside na força
da justiça.
Me encanta ver isso acontecendo.”
Quando milhões de
pessoas saem às ruas, penso que são movidas pelo desejo de justiça. Quando somos
bombardeados diariamente pela mídia com notícias de escandalosa corrupção, o
sentimento que predomina em nós é o desejo de justiça. Em muitas pessoas chega
a haver mesmo um sentimento de regozijo quando um desses corruptos vai para a
cadeia. Parece-nos que naquele momento a justiça foi feita. Dá para entender
este sentimento.
Não é raro que vejamos
na tevê uma família cujo filho foi morto por uma bala perdida a clamar por
justiça. Afinal, é o que lhes resta, é mesmo uma necessidade.
Nossa indignação é o
desejo de um Brasil melhor: faça-se justiça, é o que merecemos todos.