quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Uma certa queda...

Ao meu amigo Moisés



Em sua crônica de hoje, Maria, para O Globo (27 fev 2020), Veríssimo fala de Olinda e seu museu de esculturas sacras. Destaca a figura de uma menina, cujo texto no chão da redoma informa tratar-se de Maria, mãe de Jesus, ainda criança.
            E Veríssimo pergunta: “Agora, por que um ateu irremediável como eu está emocionado na frente dessa pequena maria solitária, a caminhos de ser a Maria mãe e santa? A menina que me olha através do vidro da vitrine não sabe, mas ela já é a Maria que Michelangelo esculpirá na sua “Pietá”, um filho morto no colo da mãe, toda a dor do mundo tirada de um bloco de mármore, e não há nada que eu possa fazer, minha filha.”
            Linda a cena descrita pelo cronista! Mas o que desejo destacar mesmo é que, segundo Veríssimo, “O Fernando Sabino contava que um amigo seu dizia: 

— Eu não acredito em Deus, mas tenho uma certa queda pela Virgem Maria...

            Eis aí um microconto perfeito!


Crianças morrem congeladas na Síria

A foto do dia



Ahmad Yassin Leila segura sua filha Iman,
que congelou até a morte com apenas 
18 meses de vida / Foto: NYT

“Crianças morrem congeladas enquanto os ataques provocam o maior êxodo da guerra na Síria. Em meio a uma das piores emergências humanitárias da guerra, alguns dos que reivindicaram liberdade e dignidade em 2011 querem somente proteger-se do frio. Reportagem de Vivian Yee e Hwaida Saad, The New York Times (27 fev 2020), de 
REYHANLI, TURQUI

“A criança não estava se mexendo. O seu corpo esquentara e depois esfriara. O pai a levou correndo para o hospital, a pé, porque não encontrou um carro, mas já era tarde demais. Aos 18 meses, Iman Leila havia morrido congelada.” 



Hyalmar Söderberg




Por sugestão de meu irmão Paulo Sergio, li O jogo sério, de Hjalmar Söderberg (Relógio d’água, 2013). Estou dispensado de criticá-lo, diante da recente postagem do Paulo, que o leu em Esperanto. https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2020/01/o-magistral-jogo-serio.html
            Desejo apenas dizer que gostei da obra: linguagem elegante, entre o romântico e o realismo, irônica e melancólica, a retratar a vida na Escandinávia bem distante de nós. É de se registrar a contenção de sentimentos, uma certa pobreza afetiva nas relações humanas, próprias daquela região gelada (?), de céu sempre nublado. Ou talvez seja apenas o pessimismo de Söderberg.
            A edição portuguesa do livro, realizada em Sta. Maria da Feira, é primorosa. A capa, de autoria de Carlos César Vasconcelos, é belíssima! A tradução de José Miguel Silva foi feita a partir dos textos em inglês e castelhano.
            
            

Moisés e a metafísica


Graça contingente

Era louco pelos os seus cachorros, mas permitia que apenas as fêmeas fossem castradas.



Quebra de acordo 

Conviveu resignadamente com a diabetes desde a infância, mas sentiu-se traído quando precisou de óculos para leitura.



Metafísica

Para ele, era sagrada a certeza de viver em um universo sem Deus.



Convicção

– Então você não acredita que a vida é uma graça que Deus lhe deu?
– Não, mas agradeça a Ele por mim.
       


                     Moisés Tito Lobo Furtado