Tome cuidado, todo aquele que gosta de escrever!
Cuidado para não ser tomado pela mania do microconto, pois ela gruda que nem chiclete. Tudo pode virar um microconto: uma paisagem, cachorro bebendo água, gato vadio, orquídea em flor, as quatro estações do ano, um domingo de sol. Os sentimentos, então, nem se fala.
Estou lendo Diário de um velho louco, de Jun`Ichiro Tanizaki, e de repente me deparo com um microconto prontíssimo, a saltar aos olhos, lindo, e o autor não sabia que estava compondo um microconto, estava apenas escrevendo seu diário, sossegado, mas eis que o leitor atento descobre no texto um belo microconto.
“– Apesar das dores, eu me distraio escrevendo. Prometo parar quando ficarem insuportáveis. No momento, estou melhor assim. Deixe-me sozinho, por favor.”
O microconto é síntese, e por isso mesmo dá o que pensar. Para quem escreve e para quem lê.