Paul Gauguin casou-se com menina de 13 anos. Recompensa milionária para quem oferecer informação segura sobre seu paradeiro.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Paul Gauguin torna-se réu
'Tehamana tem muitos pais'
Retrato da amante menor de idade de Paul
Foto: Instituto de Arte de Chicago
Sob o provocativo título Devemos parar de admirar Paul Gauguin?, Farah Nayeri escreve para The New York Times (2 dez 2019) artigo que há de gerar polêmica. Portanto, interessa a este blog.
“Está na hora de pararmos de vez de olhar Gauguin?” Esta é a pergunta espantosa que os visitantes ouvem no guia áudio, circulando pela mostra Gauguin Portraits na National Gallery, em Londres.” Estão expostos autorretratos, retratos de amigos, de colegas artistas, das jovens com as quais viveu no Taiti e dos filhos que ele teve com elas.
Destaca-se o retrato de Tehamana (1893), amante adolescente de Gauguin, segurando um leque. O artista “manteve frequentemente relações sexuais com adolescentes, ‘casou’ com duas delas e teve filhos”, informa o texto na parede do museu.
Paul Gauguin nasceu em Paris em 1848, viveu no Peru na infância, até regressar à França. Começou a pintar com pouco mais de 20 anos e viajou para Taiti de barco em 1891, aos 43 anos de idade, desiludido com sua produção artística até então.
A inovação formal apresentada pelo pintor a partir de então tornou-se sucesso mundial, marco fundamental na história da pintura. Afirma Nayeri: “Em uma época de extrema sensibilidade às questões de gênero, raça e colonialismo, os museus estão reavaliando o seu legado. Agora, tudo deve ser revisto em um contexto muito mais pormenorizado", disse Christopher Riopelle, um dos curadores da mostra da National Gallery.
Sasha Suda, diretora da National Gallery do Canadá editou alguns dos textos afixados ao lado dos quadros. Por exemplo, em vez de “o seu relacionamento com uma jovem taitiana”, ela escreveu “o seu relacionamento com uma menina taitiana de 13 ou 14 anos”. Disse mais: “Tratar dos “pontos cegos” da obra de artistas históricos “poderia tornar estes artistas mais relevantes”. Entretanto, “para outros profissionais dos museus, o reexame da vida de artistas do passado, da perspectiva do século 21, é arriscado”.
“Eu posso ter horror e sentir asco pela pessoa, mas a obra é a obra”, explicou Vicente Todoli, diretor artístico da fundação de arte Pirelli Hangar Bicocca de Milão. “Uma vez que um artista cria algo, isto deixa de pertencer ao artista, passa a pertencer ao mundo”.
“Ashley Remer, uma curadora da Nova Zelândia, que em 2009 fundou a girlmuseum.org, um museu online sobre a representação de meninas na história e na cultura, insistiu que, no caso de Gauguin, as ações do homem foram tão escandalosas que ofuscaram a obra. “Ele foi um pedófilo arrogante, superestimado, paternalista, chegando a ser tosco”, afirmou.
Agora vem a parte mais surpreendente, para não dizer estarrecedora, do artigo de Farah Nayeri: “Para garantir que o legado artístico de Gauguin não seja manchado por seus “casamentos” com adolescentes, estes relacionamentos deveriam permanecer cobertos nas exposições, segundo Line Clausen Pedersen, curadora dinamarquesa que organizou várias mostras de Gauguin. Em cada exposição, “retira-se outra camada da proteção da história de que ele de certo modo se aproveitou”, disse. “Talvez tenha chegado o momento de arrancar mais camadas do que antes”. E acrescentou: “O que resta dizer a respeito de Gauguin é que devemos retirar toda a sujeira”.
Uma certa ministra do atual governo talvez pudesse convocar aquela senhora para reavaliar a produção artística nacional, desde sua origem até os dias atuais, para retirar tanta sujeira. O fundamentalismo religioso não impera apenas entre nós, infelizmente. Fico pensando quanto da arte seria escondida debaixo de panos, empoeirando em salas obscuras dos museus, guardada em porões de antigas bibliotecas, censurada aos olhos dos homens, a partir de julgamento moral, e não artístico, de um determinado julgador onisciente e onipotente.
Voltamos à Idade Média? Seria isso o começo do fim da Arte?
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