Da série,
Na praia.
Livro de
férias? Que bobagem é esta?, perguntarão os puristas. Livros, há os bons e os
ruins. Talvez não seja bem assim, posso explicar.
Toda vez que vou sair de férias, viajar
por alguns dias, dedico-me à tarefa de escolher um livro para a ocasião, e a
leitura tem início logo na sala de espera do aeroporto, no dia da partida. Não
pode ser um livro muito pesado, volumoso, difícil de carregar. Não pode ser
muito dispendioso, capa dura, todo ilustrado, pois certamente irá à praia,
receberá respingos de água do mar, sem falar no banho de areia, manchas de
cerveja e gordura. Também não pode conter um texto muito complicado, sério
demais, pesado num segundo sentido, que exija grande esforço para a leitura;
férias são férias, tempo de relaxar. Um policial, daqueles escritos por Luiz
Alfredo Garcia-Roza, é o exemplo de livro ideal para as férias: bem escrito,
linguagem cuidada e moderna, trama bem construída, porém, leitura sem maior
responsabilidade. Como li todos que Garcia-Roza já publicou, dessa vez foi
preciso fazer escolha de outra natureza.
Há um detalhe que preciso antecipar.
Tenho uma amiga que está sempre a me indicar certo tipo de livro, e minha
resposta é invariavelmente a mesma, definitiva, atrevida, mal-educada,
arrogante, pretenciosa, impertinente, insolente mesmo: não leio best-seller! E é verdade, não leio este tipo de literatura,
especialmente por causa da forma, quase sempre vulgar, para dizer o mínimo. (E
aceito que me chamem de besta.)
A viagem seria no dia seguinte, e eu me
encontrava numa boa livraria, à cata do tal livro de férias, sem muito tempo
para uma busca minuciosa. Foi quando me deparei com um volume que trazia um
pequeno selo na capa, com os dizeres: “Best-seller canadense, 1o
lugar na lista de mais vendidos por 10 semanas”. Era o que bastava para que eu
não o escolhesse.
O autor, Eric Siblin: mais desconhecido,
impossível! Além do que leio pouca literatura estrangeira.
A editora, também não conhecia:
Realizações Editora.
Mas o título, ah! o título, prendeu-me
como chiclete na sola do tênis, agarrou-me pela garganta e me suspendeu do chão,
deixou-me com falta de ar e palpitações, à beira de um colapso. Exagero meu?
Nada disso:
“As suítes para violoncelo – J. S. Bach, Pablo Casals
e
a busca por uma obra-prima barroca”
Preciso
esclarecer que estas suítes, em especial a no 1 e no 6, juntamente
com o Réquiem, de Mozart, e a Sonata para piano no 32, opus 111, de
Beethoven, são as minhas músicas preferidas. Depois de uma rápida folheada no
livro, tomei conhecimento de que os originais das suítes de Bach nunca foram
encontrados! Pronto, estava ali o livro de férias.
A forma,
como esperado, deixou a desejar, embora não tenha chegado às raias da
vulgaridade. Porém, o conteúdo é interessantíssimo. Além de dados biográficos
de Bach, o autor, ele mesmo um apaixonado pelas suítes (pelo menos, acreditei
nisso...), descreve o destino que Pablo Casals deu a estas obras, tornando-as
conhecidas de todo o mundo. O encontro das cópias por Casals ainda muito jovem,
em companhia do pai, num sebo de Barcelona, é eletrizante.
Os capítulos correspondentes a cada uma das seis suítes recebem subtítulos muito originais, segundo os movimentos da peça: prelúdio, alemanda, corrente, sarabanda, minueto, giga. Cada prelúdio traz um comentário musical bastante apropriado.
Os capítulos correspondentes a cada uma das seis suítes recebem subtítulos muito originais, segundo os movimentos da peça: prelúdio, alemanda, corrente, sarabanda, minueto, giga. Cada prelúdio traz um comentário musical bastante apropriado.
E foi assim
que já não posso dizer, Não leio best-seller. E foram ótimas férias.