Em artigo
para o excelente jornal de literatura Rascunho, Fernando
Monteiro, escritor, pergunta: Afinal, estamos escrevendo para quem? (Sugestão de leitura me oferecida pelo meu amigo Sergio Pripas.)
Ele apresenta
alguns dados sobre o livro e o hábito da leitura verdadeiramente apavorantes!
“O brasileiro que lê apenas 4,96 livros
por ano — sendo que, desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos
por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e
2,53 lidos em partes (quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro).”
74% da
população não compraram nenhum livro nos últimos três meses. 30% dos
entrevistados nunca compraram um livro.
Para 67% da população, ninguém incentivou
a leitura em sua vida. Dos 33% que tiveram alguma influência, a mãe, ou
representante do sexo feminino, foi a principal responsável (11%), seguida pelo
professor (7%).
As mulheres leem mais: 59% são
leitoras. Entre os homens, 52% são leitores.
A leitura ficou em 10º lugar quando o
assunto é “o que gosta de fazer no tempo livre”.
Agora vem o dado que classifiquei de
apavorante:
“A
pesquisa perguntou a professores qual tinha sido o último livro que leram e 50%
responderam nenhum e 22%, a Bíblia.” Outros títulos citados: Esperança, O monge e o executivo, O
amor nos tempos do cólera, Bom
dia Espírito Santo, Livro dos
sonhos, Menino brilhante,
O símbolo perdido, Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício.”
Não
pretendo traçar aqui amplo perfil do professor; mas se ele não lê, se não dá
importância à leitura, de fato não pode influenciar seus alunos a lerem. Que
professor é esse?
Relembro
aqui a afirmação de Antonio Candido, recentemente falecido:
“A
literatura é, ou ao menos deveria ser, um direito básico do ser humano, pois a
ficção/fabulação atua no caráter e na formação dos sujeitos”.
Como os professores podem ignorar este
princípio básico da educação?
Monteiro,
ele mesmo um escritor, conclui a crônica com a questão: “Então, aqui, nós
estamos — afinal — escrevendo para quem?”
Foto: AVianna, jul 2017.