segunda-feira, 25 de julho de 2016

Parabéns a Leandro Karnal ou A vida de cronista


           
             O homem, que se apresenta como historiador, é convidado a escrever crônica domingueira em O Estado de S. Paulo. Ele já é figura bem conhecida de um certo público que assiste suas conferências pela televisão e Internet, esteve no Roda Viva, porém escrever semanalmente no Estadão é outra coisa!
            Pois não é que Leandro Karnal, ao escolher o tema para sua primeira crônica, publicada ontem (24/7/2016), teve a coragem de confessar sua vaidade e seu medo diante de tremendo desafio. Assim inicia a crônica, cujo título é “Sobre a vaidade”:

“A vaidade é conselheira astuta. Seduz. Instiga. Ser colunista de um dos maiores jornais do país? Estar toda semana nas páginas do Estadão? Fazer parte de uma instituição que remonta a 1875? Claro! Você merece, Leandro. You’re the guy! O orgulho não precisa de esforço imenso: ele prega sobre o valor das bananas para macacos famintos. O sim interno foi imediato. Enfim, meu narciso se entregava, tépido, ao deleite das palavras: Colunista do Estadão.”

            E Karnal conclui de maneira magistral, diante do grande desafio, sabedor de suas responsabilidades:

“Minha felicidade nunca esteve nas ondas rasas. Sempre aceitei o jogo ambíguo do risco e do desafio. Um bom domingo a todos vocês!”

            Pois não é esta a essência mesma da crônica, tratar de algo bem atual? Mais atual do que vai pela alma do escritor em dado momento, impossível! Os sentimentos e emoções à flor da pele daquele que escreve: vaidade, medo, orgulho, o peso da responsabilidade, a opinião alheia, angústia, pavor.
            Às tantas o agora cronista faz referência à obrigação semanal. Penso que este seja o maior obstáculo para quem escreve: a obrigação de escrever. Porque de vez em quando o escritor não sente vontade de escrever. Ele não tem controle sobre isso, sobre o desejo de escrever, sobre o quê escrever ou não escrever, sobre um certo vazio que vez por outra lhe assalta o espírito, a ausência absoluta de ideias. Então, como escrever?
Karnal sabe disso e confessa: “Lembra-te de que és apenas um homem”. Que bom ter a consciência desta humana falibilidade! Fica mais fácil controlar o Narciso que reside em todos nós. Então o cronista pode escrever para o leitor e não apenas para si próprio.
            Porém, Karnal é obrigado a fazê-lo, semanalmente, reza o contrato, o que está bem próximo da tortura mental. Isso explica o fato de que até o grande Veríssimo, o maior cronista do país, vez em quando erra na mão, enche o texto de abobrinhas e borrachas, humano que é.
            Nesta primeira crônica Karnal escreve com esmero de conteúdo e forma; a continuar assim, haverá de acrescentar um prazer a mais às nossas manhãs de domingo, ao lado de Veríssimo e Hélio Schwartsman (na Folha de S. Paulo).
            Porém, convenhamos, vida de cronista não é fácil: a obrigação de escrever é quase desumana.